Reality mostra as dores emocionais dos brothers e como o assunto faz parte da casa mais vigiada
As câmeras espalhadas por todos os cantos no reality show BBB (Big Brother Brasil) nos oferecem muito mais do que apenas entretenimento. Acompanhar a trajetória dos participantes nos ensina e nos leva às sérias e pertinentes reflexões. É comum que durante o dia a dia do programa as edições mostrem os participantes trocando experiências, contando vivências e apontando dores e fragilidades. Em especial, na última terça-feira, dia de eliminação, o apresentador Tadeu Schmidt mostrou um vídeo dos integrantes avaliando suas dores em conversas incomuns – muitas resultado de traumas vividos na infância.
Um deles foi o MC Bin Laden dizendo que a primeira vez que ouviu ‘eu te amo’ foi com 19 anos, quando foi adotado. O integrante do grupo Camarote lida com a dor da rejeição, já que viveu a infância e a adolescência sem amor e afeto.
“A rejeição, especialmente na infância, é algo que impacta profundamente a forma como o individuo olha para si e para o mundo. Além disso, estudos científicos demonstram por meio de ressonância magnética, que a dor emocional causada pela rejeição afeta a mesma área do cérebro que a dor física, ou seja, é uma dor real. MC Bin Laden teve que lidar a maior parte da vida com o deserto emocional, falta da construção de um apego seguro com seus cuidadores primários e por isso, pode ter dificuldade de se relacionar, de confiar no outro, e até de estabelecer relacionamentos pautados no amor e na segurança”, avalia Telma Abrahão renomada especialista em Educação Neuroconsciente, autora de diversos livros sobre o tema entre eles o best seller “Educar é um ato de amor, mas também é ciência” e fundadora da UniNeuroconsciente.
Outra participante que foi palco de muitos VTs sobre o assunto é a Fernanda, do grupo Pipoca, ao narrar o difícil convívio com seus pais e o abandono do companheiro. “Quando uma criança é criada em um lar com críticas e comparações constantes ela tende a crescer com dúvidas sobre seu próprio valor, senso de capacidade e merecimento. Como ela mesma menciona várias vezes, seus pais a comparavam o tempo todo com o irmão, e a faziam se sentir inferior e sem valor. Padrões da infância tendem a ser repetidos ao longo da vida, e isso pode explicar os padrões tóxicos na vida adulta em seus relacionamentos amorosos.”, analisa a especialista.
No caso da Wanessa, filha do cantor sertanejo Zezé de Camargo, o que chama atenção é o fato de faltar autoconfiança, uma vez que, em seu caso, sempre houve comparação com o pai, principalmente, no quesito profissional. “Quando somos crianças desejamos ser amados, pertencentes e bem-vindos no lar onde vivemos. E muitas vezes por diferentes razões os pais não conseguem suprir essas necessidades emocionas dos filhos, deixando uma lacuna que acaba permanecendo ao longo dos anos. E ter um pai, cantor, famoso, que faz sucesso e ser constantemente comparada com ele, acaba trazendo essas sensações da infância a tona com crenças como de “eu não sou boa o suficiente”, “eu não mereço ser bem paga por isso”, exemplifica Telma.
Outros participantes, como Pitel, Davi e Alane chamam a atenção diante de suas falas. “Faz pouco tempo que minha mãe passou a dizer ‘te amo’”, conta Pitel. No caso de Davi, às lágrimas e a narrativa mostra uma infância sem cor, onde o pai o cobrava por uma postura de ‘homem’ e que batia no filho para que ele pudesse ‘crescer’. Já Alane demonstrou em vários episódios crises de ansiedade severas, uma inclusive onde desmaiou. “Chamamos isso de dissociação, que acontece quando o sistema nervoso entra no ‘modo de proteção à vida’ devido a uma sobrecarga emocional maior do que o individuo pode suportar. Sentimentos intensos de insegurança e medo podem levar a pessoa a esse desmaio”, esclarece a autora.
Segundo Telma Abrahão, esses casos apenas reafirmam como a infância e as vivências experimentadas nos primeiros anos de vida, refletem nos adultos que nos tornamos. “Educar não é sobre ferir, é sobre aprender a se relacionar, primeiramente consigo e depois com o outro. É sobre aprender a colocar limites sim, mas com respeito! É se dar a educação emocional que não recebeu para sair do caos e poder educar sem tapas, gritos e castigos. Sem ferir emocionalmente e fisicamente. A infância é a base da vida e não tem replay. Precisamos quebrar o ciclo da dor e aprender a fazer diferente”, finaliza a especialista.