Um total de 150 produtores de alimentos, varejistas e empresas de serviços alimentares globais, cuja receita combinada supera USD 4,9 trilhõess, foram classificados pelo BBFAW
A publicação de 2024 do Business Benchmark on Animal Welfare (BBFAW ou, em português, o Referencial Empresarial de Bem-Estar Animal) revela que a maioria dos gigantes globais do setor de alimentos (95%) reconhece a importância do bem-estar animal e está tratando o assunto com políticas de compromissos e governança mais clara. Poucos, no entanto, estão relatando a implementação bem-sucedida dessas ambições, com 93% recebendo as classificações mais baixas (“E” ou “F”) em “Impacto no Desempenho” – dessas empresas, seis são brasileiras: BRF (E), Aurora (F), Habib´s (F), JBS (F), Marfrig (E) e Minerva (E).
Esse impacto de desempenho é uma avaliação dos efeitos tangíveis nas vidas dos animais de criação cultivados para a alimentação em cadeias de suprimentos corporativas. Por exemplo, o progresso em questões como o tempo que esses animais passam em transporte de carga viva ou em confinamento restrito, como gaiolas de gestação, continua decepcionantemente lento.
Um total de 150 produtores de alimentos, varejistas e empresas de serviços alimentares globais, cuja receita combinada supera USD 4,9 trilhões, incluindo empresas como McDonalds, Tesco e Tyson Foods, foram classificados pelo BBFAW, que, este ano, introduziu critérios de avaliação mais rigorosos e um foco maior em “Impacto no Desempenho”, incluindo novas perguntas sobre como se as empresas estão reconhecendo a necessidade de reduzir a dependência de alimentos de origem animal e de diversificar com o uso de proteínas alternativas.
O BBFAW foi lançado originalmente em 2012 e continua sendo a principal avaliação global de políticas e práticas de bem-estar animal das empresas. Ele tem o apoio dos parceiros Compassion in World Farming e FOUR PAWS, e de uma coalizão de investidores institucionais que administram mais de USD 2,3 trilhões em ativos e que se engajarão com as empresas este ano para promover melhorias.
Segundo Nicky Amos, Diretora-Executiva da BBFAW, os resultados do BBFAW mostram que, para 95% das empresas alimentícias, proteger o bem-estar de animais de criação trata-se de fazer bons negócios. “Os critérios do referencial foram fortalecidos em 2024, então é encorajador que várias empresas, incluindo as três que alcançaram o status de “Nível 2”, estejam liderando pelo exemplo e mostrando que níveis elevados de progresso são possíveis. Por outro lado, a análise de hoje mostra que também há um longo caminho a ser percorrido para que o setor alimentício transforme conscientização e compromisso em benefícios demonstráveis para o bem-estar animal, com um grande número de animais de criação ainda sofrendo com práticas desumanas, como o confinamento restrito ou mutilações de rotina.”
Segundo Abigail Herron, Chefe Global de Política de Saúde e Natureza da Aviva Investors – um dos 32 investidores institucionais que apoiam o BBFAW – o Business Benchmark on Animal Welfare continua sendo um guia valioso para ajudar os investidores a analisar a qualidade da gestão de maneira sistemática e consistente em toda a indústria alimentícia global.
O referencial deste ano encontrou vários sinais encorajadores ao estabelecer uma nova linha de base para o desempenho corporativo, incluindo:
- A maioria das empresas avaliadas (95%) agora identifica o bem-estar de animais de criação como uma questão comercial relevante, contra 79% em 2012[1].
- Três empresas (Marks & Spencer, Premier Foods e Waitrose) alcançaram o status de “Nível 2”, demonstrando liderança ao fazer do bem-estar de animais de criação uma parte integral de sua estratégia comercial.
- As empresas com as pontuações mais altas em “Impacto no Desempenho” – uma medida de quão bem as empresas demonstram benefícios reais de bem-estar para os animais de criação em sua cadeia de suprimentos global – foram as seis empresas (4%) que alcançaram uma classificação “C”: Marks & Spencer (Reino Unido), Groupe Danone (França), Premier Foods (Reino Unido), Waitrose (Reino Unido), Cranswick PLC (Reino Unido) e Migros-Genossenschafts-Bund (Suíça).
- No geral, há níveis elevados de ambição em relação a ovos de galinhas criadas livres, com 73% das 141 empresas que possuem ovos em suas cadeias de suprimentos agora tendo compromissos com ovos de galinhas criadas livres.
- Uma nova seção da avaliação constatou que 25% das empresas avaliadas reconhecem a necessidade de redução da dependência de alimentos de origem animal como uma questão comercial relevante, sendo que 21 empresas, incluindo Greggs, Sodexo e Carrefour, publicaram metas com prazos definidos.
No entanto, muitas descobertas no referencial deste ano também mostraram o trabalho que ainda precisa ser feito pelo setor alimentício:
- A implementação está defasada em relação ao compromisso: 93% das empresas foram classificadas com “E” ou ‘F” em “Impacto no Desempenho”, e nenhuma organização alcançou as classificações máximas de impacto (“A” ou “B”). Empresas com a classificação de impacto mais baixa (“F”) incluem Amazon, Whole Foods, Domino’s Pizza Inc, Müller e Tyson Foods.
- Sem política: 19 empresas globais de alimentos, incluindo a Yum China Holdings (proprietária do KFC na China) e a Domino’s Pizza Inc (EUA), ainda não publicaram uma política formal de bem-estar de animais de criação.
- Confinamento restrito: 18% das empresas, incluindo a Tyson Foods e o WH Group (que inclui a grande produtora americana de carne suína Smithfield), não possuem políticas de compromisso para encerrar o uso do confinamento restrito. Apenas 9% das empresas com suínos em sua cadeia de suprimentos (13 de 137 empresas) estabeleceram metas viáveis para encerrar o uso de “baias para porcas” ou “gaiolas de gestação” – recintos de metal onde mal cabe um porco adulto e que são proibidos em jurisdições como Reino Unido, Suécia e vários estados norte-americanos. O BBFAW define uma meta viável com prazo determinado que restringe o uso de gaiolas a não mais que quatro horas, sendo que o Walmart e a Cargill estão entre aqueles que não cumprem este critério.
- Mutilações de rotina: A maioria das empresas (52%) não possui políticas para lidar com mutilações de rotina – como marcação a ferro quente ou caudectomia em suínos e bovinos.
- Transporte de carga viva: Apenas 27% das empresas avaliadas relatam que o transporte de animais de criação vivos é restrito a viagens curtas (ou seja, quatro horas ou menos para aves e coelhos; oito horas para outras espécies).
Os critérios de avaliação do BBFAW mudaram substancialmente desde o último referencial (2021) para colocar um foco maior na promoção de mudanças significativas e na garantia de melhorias tangíveis às vidas dos animais de criação cultivados para a alimentação. Em particular, o número de perguntas sobre “Impacto no Desempenho” aumentou de 10 para 20 e essas perguntas agora representam 55% da pontuação total do referencial (em comparação com 45% em 2021). Esses critérios também observaram a introdução de novas perguntas e de um novo pilar dos critérios de avaliação focado na redução da dependência de alimentos de origem animal na dieta humana. Essas mudanças levaram à redefinição do referencial, sendo que os resultados do BBFAW 2023 representam uma nova linha de base. Assim, comparações ano a ano em áreas como pontuação média geral ou alterações nas classificações de nível das empresas não foram destacadas este ano.
As avaliações das empresas foram baseadas em informações publicadas pelas empresas até as datas de suas avaliações. Todas as empresas foram avaliadas durante o período de outubro a dezembro de 2023.
O relatório completo está disponível aqui
Pontuação das empresas brasileiras
O Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW)
O BBFAW é a principal medida global de gestão, compromisso com políticas, desempenho e divulgação do bem-estar de animais de criação em empresas alimentícias. Ele permite que investidores, empresas, ONGs e outras partes interessadas compreendam o desempenho e as práticas corporativas de bem-estar de animais de criação e promove – diretamente e por meio dos esforços de terceiros – melhorias corporativas no bem-estar de animais criados para a alimentação. O Secretariado do BBFAW mantém a Declaração Global de Investidores sobre Bem-Estar de Animais de Criação e convoca a Colaboração Global de Investidores sobre Bem-Estar de Animais de Criação, um compromisso colaborativo entre grandes investidores institucionais e empresas alimentícias sobre a questão do bem-estar de animais de criação. O programa é apoiado pela Compassion in World Farming e pela FOUR PAWS, que fornecem experiência técnica, orientação, financiamento e recursos práticos, além de apoiar as empresas alimentícias avaliadas com treinamentos, experiência programática e engajamento em consultoria.
Mais informações sobre o programa podem ser encontradas em www.bbfaw.com
Compassion in World Farming
A Compassion in World Farming é a organização internacional líder em bem-estar de animais de criação dedicada a acabar com a criação industrial de animais e a remodelar o sistema alimentar para beneficiar as vidas dos animais, das pessoas e a saúde do planeta. Por meio de campanhas, de lobby por mudanças legislativas e de engajamento positivo com a indústria global de alimentos, buscamos influenciar os principais tomadores de decisões que moldam, compõem e financiam o sistema alimentar. Por meio do nosso programa de Negócios de Alimentos, trabalhamos em parceria com as principais empresas alimentícias para promover mudanças transformacionais no bem-estar dos animais de criação, reduzir a dependência de alimentos de origem animal e incentivar uma transição para práticas agrícolas regenerativas.
FOUR PAWS
A FOUR PAWS é a organização global de bem-estar animal para animais sob influência humana direta, que revela sofrimento, resgata animais necessitados e os protege. Fundada em 1988 em Viena por Heli Dungler e amigos, a organização advoga por um mundo onde humanos tratem animais com respeito, empatia e compreensão. As campanhas e projetos sustentáveis da FOUR PAWS focam em animais de companhia, incluindo cães e gatos de rua, animais de criação e animais selvagens – como ursos, grandes felinos e orangotangos – mantidos em condições inadequadas, bem como em zonas de desastres e conflitos. Com escritórios na África do Sul, Austrália, Áustria, Alemanha, Bélgica, Bulgária, EUA, França, Kosovo, Países Baixos, Reino Unido, Suíça, Tailândia, Ucrânia e Vietnã, bem como santuários para animais resgatados em 11 países, a FOUR PAWS oferece ajuda rápida e soluções de longo prazo. www.four-paws.org