“Uma possível desestatização e o estímulo ao setor privado nos EUA podem aquecer a economia norte-americana e favorecer o agro brasileiro”
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos deve gerar efeitos importantes para o Brasil, especialmente no campo econômico e comercial, apontam os consultores jurídicos da Evoinc, Luiz Felipe Baggio e Ranieri Genari. Com uma política externa mais alinhada a Israel, a expectativa é que os conflitos na região tenham uma resolução mais breve, o que pode beneficiar a economia israelense, sede de empresas como a Netafim, uma das maiores no setor de irrigação. Esse cenário pode abrir portas para que o Brasil intensifique parcerias com países do Oriente Médio e diversifique sua pauta de exportação.
No setor do agronegócio, uma possível desestatização e o estímulo ao setor privado nos EUA podem aquecer a economia norte-americana e aumentar a demanda por commodities agrícolas, favorecendo o agro brasileiro. “A ampliação do setor privado deverá intensificar a atividade econômica nos Estados Unidos, gerando uma demanda adicional por produtos agrícolas, o que beneficia a produção nacional”, afirma Baggio. No entanto, Genari alerta para possíveis barreiras alfandegárias impostas aos produtos brasileiros, já que o Brasil se posiciona como um dos principais concorrentes agrícolas dos EUA. “Nosso setor agro compete diretamente com o americano em várias bolsas de commodities, o que pode levar a uma política protecionista nos EUA”, destaca.
Outro impacto possível diz respeito ao movimento de fortalecimento de identidade cultural e restrições migratórias, que têm ganhado força em países como Itália e França e podem se expandir para os EUA. Com isso, há a possibilidade de um aumento na migração de determinados grupos para outros países mais receptivos, como o Brasil. Segundo Baggio, tal cenário representaria um desafio adicional para o Brasil, com potencial aumento dos gastos públicos para integrar esses novos imigrantes, impactando diretamente o orçamento nacional.
As relações diplomáticas entre Brasil e EUA também tendem a passar por um período delicado. Com declarações recentes do governo brasileiro associando Trump a ideologias extremistas, Genari observa que essa postura pode esfriar os laços comerciais e criar obstáculos, principalmente considerando que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. Em um momento em que as relações dos EUA com a China também podem ser intensificadas, o Brasil deverá monitorar os efeitos de uma possível reorientação da política externa norte-americana, para preservar suas próprias parcerias comerciais e minimizar impactos em setores estratégicos da economia.