A novíssima indústria no Brasil
Rio de janeiro

A novíssima indústria no Brasil

 Fernando Peregrino *
    * Chefe-de-gabinete da FINEP e vice-presidente do Clube de Engenharia.
   Deep tech é um termo que tem sido usado para designar startups e ecossistemas que abraçam tecnologias complexas ou resolução de problemas de alto impacto.  A expressão se refere a empresas que criam produtos ou processos com base em avanços científicos significativos.
   São tecnologias desenvolvidas a partir de anos de pesquisa,  que envolvem alto risco de desenvolvimento e enorme potencial de transformação  .
   DEEP TECH BRASIL tem a ver com ecossistema de startups e empresas que desenvolvem tecnologias disruptivas baseadas em avanços científicos e de engenharia,  com foco em áreas como biotecnologia,  computação em nuvem,  nanotecnologia e inteligência artificial.
   O Brasil tem se destacado nesse campo com um número crescente de investimentos em biotecnologia e soluções para o agronegócio e saúde.
    Nesta quinta-feira, dia 8 de maio, a FINEP realizará, em sua sede no Rio de Janeiro, um seminário inédito que reunirá mais de 15 entidades nacionais, publicas e privadas,  com um objetivo estratégico: Construir uma proposta de política pública nacional efetiva para o fomento às startups deeptechs — empresas de base científica e tecnológica com alto potencial de impacto econômico e social.
   O evento integra os desdobramentos da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI) e visa articular os instrumentos de fomento existentes, corrigir lacunas e alinhar esforços públicos e privados para apoiar o que pode ser a novíssima indústria brasileira.
    A iniciativa é liderada pela FINEP em conjunto com o  BNDES, Sebrae, CNI, ABDE, CGEE, Anprotec, Abipti, Wilinka, Emerge, Andifes, ANPEI, P&D Brasil, Fapesp, Fortec entre outras entidades representativas do ecossistema de inovação e desenvolvimento.
De acordo com levantamento da consultoria Emerge, o Brasil conta atualmente com 847 startups deeptechs distribuídas em áreas como biotecnologia, novos materiais, inteligência artificial, nanotecnologia, fotônica e energia limpa.          Apesar da relevância crescente no mundo, essas empresas ainda enfrentam obstáculos significativos no Brasil, como acesso limitado a financiamento adequado ao seu perfil de risco e maturação, a burocracia pública, falta de instrumentos jurídicos e regulatórios sob medida, e carência de políticas de compras públicas voltadas à inovação disruptiva.
O seminário, cuja prévia ocorreu no Websummit do RJ em auditório lotado,  é o primeiro de uma serie de vários que o protocolo, entre essas entidades acima,  estabeleceu. e será um espaço de trabalho colaborativo.
   Abordará temas como compras governamentais de inovação,financiamento em múltiplas etapas, fundos e garantias, ecossistemas de apoio, propriedade industrial e regulação. O objetivo central é consolidar uma proposta articulada de política pública que complemente o plano Nova Indústria Brasil, lançado pelo Governo Federal, e que reconheça as especificidades e o potencial estratégico das deeptechs para a neoindustrialização do país.
As entidades coordenadoras do seminário convergiram em torno de um diagnóstico comum: as ações hoje existentes ainda são esporádicas, pouco integradas entre si, e frequentemente operam com instrumentos inadequados às necessidades e o potencial dessas empresas.
   É preciso, segundo os organizadores, transitar de uma lógica fragmentada para uma abordagem sistêmica, com programas coordenados, metas claras e uma governança participativa tendo em vista as seis missões da Nova Industria Brasil.
A expectativa é a de que o seminário resulte na consolidação de um documento-base para subsidiar o Governo e suas instâncias na formulação de uma política nacional de apoio às deeptechs, com foco em financiamento, regulação, desburocratização e estímulo a resolver os grandes desafios tecnológicos nacionais.
   As deep techs representam uma nova fronteira da inovação baseada em ciência de ponta e engenharia avançada, com potencial transformador para setores estratégicos como saúde, energia, meio ambiente, defesa, agricultura e manufatura. Elas nascem de pesquisas intensivas em conhecimento, geralmente desenvolvidas em universidades e institutos científicos, e requerem capital paciente, proteção intelectual robusta, infraestrutura sofisticada e regulação compatível com o risco tecnológico. No mundo, essas empresas têm sido motores da neoindustrialização e da soberania tecnológica. No Brasil, porém, ainda estão à margem de uma política de Estado que reconheça sua especificidade e importância.
   Os programas hoje existentes — como os editais isolados, as linhas de crédito tradicionais ou os mecanismos de subvenção esporádicos — revelam-se insuficientes, fragmentados e muitas vezes inadequados ao modelo de negócio dessas startups.
   Por isso, construir uma política pública nacional para as deep techs é uma prioridade estratégica. Essa política deve articular ações governamentais com o ecossistema de ciência e inovação, integrando instituições como Finep, BNDES, Sebrae, agências estaduais, universidades e entidades da sociedade civil como Anprotec, Wilinka e a própria Emerge.
O Brasil precisa decidir se será apenas consumidor das tecnologias disruptivas do século XXI ou se terá um papel protagonista em sua criação.
  As deep techs podem ser o motor da reindustrialização inteligente do país, da geração de empregos qualificados e da reconstrução de uma soberania produtiva.       Para isso, é fundamental uma estratégia nacional robusta, coordenada e persistente, que trate o desenvolvimento das deep techs como uma missão de Estado, e não apenas como aposta de mercado.