A Indústria no Brasil, desde 1785
Rio de janeiro

A Indústria no Brasil, desde 1785

Fernando Peregrino *
    * Chefe-de-gabinete da presidência da FINEP e vice-presidente do Clube de Engenharia.
    No dia 25 de maio,  comemorou-se o Dia da Indústria.
     Instituído por decreto presidencial, em 1957, no Governo de Juscelino Kubitschek, para homenagear o empresário Roberto Simonsen,  empresário e político brasileiro que faleceu em 25 de maio de 1948.
   Roberto Simonsen foi e é considerado como o patrono da indústria nacional. Pioneiro da construção civil,  teve presença importante em diversos setores. Sua obra,  História Econômica do Brasil,  é considerada um clássico brasileiro. Quando presidiu a FIESP, em 1940, foi um dos idealizadores do SENAI.
  A história da Indústria, no país,  começou com a transferência da Côrte Portuguesa para o Brasil, a partir de 1808.
  Durante o Brasil Colonial,  apenas uma pequena indústria, para o consumo interno,  era permitida, devido às distâncias entre a metrópole e a colônia.

Em 1785, sob ordens do então príncipe regente Dom João VI, o Brasil assistia à publicação do Alvará que proibia a instalação de fábricas e manufaturas em território nacional. Tratava-se de uma medida colonial clássica: Impedir o desenvolvimento industrial do Brasil para manter sua economia subordinada à metrópole portuguesa e, por extensão, aos interesses da Inglaterra, cuja Revolução Industrial estava em curso. Foi uma decisão que retardou o surgimento de uma engenharia nacional e comprometeu por séculos o papel do Brasil no circuito das tecnologias estratégicas.

   Em primeiro de abril de 1808, Dom João VI, decretou lei que suspendia o decreto de 1785, autorizando as atividades da Indústria em todo o território.
O paralelo entre o início da industrialização e o Brasil contemporâneo é desconcertante.
  Ao longo das últimas décadas, em vez de aproveitar nossas imensas reservas de nióbio, terras raras, grafeno, lítio e silício, o país se contentou em exportá-las como commodities, sem agregar valor ou desenvolver uma base industrial robusta para transformá-las em chips, baterias, catalisadores ou supercondutores — produtos essenciais à nova indústria tecnológica.
  Repetimos, de certo modo, a lógica colonial: Abrir mão do protagonismo industrial em troca da especialização primária.
Mas esse ciclo começa a se inverter com o lançamento da Nova Indústria Brasil (NIB), uma política industrial ambiciosa que visa reverter décadas de desindustrialização e reposicionar a engenharia nacional como pilar do desenvolvimento soberano.
    Com investimentos previstos de R$ 3,4 trilhões até 2026, a NIB articula financiamento, compras públicas, inovação, sustentabilidade e capacitação para reindustrializar o país em bases tecnológicas avançadas.
A engenharia nacional é, mais uma vez, chamada a cumprir seu papel histórico.     Áreas como mobilidade elétrica, energia limpa, bioeconomia, defesa, semicondutores, saúde avançada e transição digital exigem engenheiros em todas as etapas — do projeto à implementação, da pesquisa à produção.
  O Brasil precisa de cérebros, ferramentas e instituições capazes de transformar ciência em produto, e tecnologia em soberania.
Nesse contexto, programas como o Mais Inovação Brasil, a Depreciação Acelerada, o Brasil Mais Produtivo e o estímulo às startups deeptechs são mecanismos concretos para a retomada da engenharia aplicada.
    São iniciativas que permitem que as universidades, institutos de pesquisa e empresas públicas e privadas colaborem em soluções para os desafios do século XXI — de forma integrada, pragmática e com foco em resultados.
A valorização da engenharia pública e das estatais — como Petrobrás,  Eletrobrás e Finep — também é estratégica.
   Essas instituições, quando bem conduzidas, têm o poder de induzir cadeias produtivas complexas e de formar quadros técnicos de excelência.
    Ao lado delas, empresas privadas como a Embraer demonstram que é possível competir globalmente com tecnologia brasileira, quando há visão de longo prazo e compromisso com a inovação.
O desafio, portanto, não é apenas técnico ou econômico: É político e civilizatório.
   O Brasil não pode mais aceitar seu papel periférico no mapa da economia do conhecimento. Temos território, biodiversidade, minérios, juventude e inteligência acumulada.
    O que faltava — e que agora começa a se esboçar com a NIB — era um projeto nacional articulado que reintegrasse a engenharia ao centro das decisões estratégicas. O Clube de Engenharia do Brasil, fundado há mais de 140 anos, sempre esteve ao lado dos que defendem o país soberano, industrial e tecnificado. A Nova Indústria Brasil representa uma rara oportunidade de reconectar o Brasil com esse destino interrompido desde os tempos coloniais. E como bem sabemos: sem indústria, não há nação independente; sem engenharia, não há indústria possível.