A Reforma Agrária de João Goulart
Rio de janeiro

A Reforma Agrária de João Goulart

Henrique João Pinheiro *
   * Economista e Produtor Executivo de Cinema.
  Nesta sexta-feira, dia 23 de maio,  às 22h,  será exibido,  no Canal Curta, o documentário ” Terra Revolta, de Caio Bortolotti e Barbara Goulart (filha de Denize Goulart e neta de Maria Tereza Goulart e do presidente Jango) , que traz a vida de João Pinheiro Neto,  presidente da histórica Superintendência da Reforma Agrária (Supra) durante o Governo de João Goulart (1961-1964).
  Tive o enorme prazer de ser o produtor executivo da obra cinematográfica.
   A produção expõe a luta de João Pinheiro Neto, o político e grande advogado,  para implementar políticas de trabalho e distribuição de terras rurais, atitude que resultou no seu encarceramento,  no início do regime militar que derrubou Jango,  no dia primeiro de abril de 1964.
  O longa-metragem propõe um olhar próximo sobre um período marcante da história brasileira.
    Revela a história do personagem (João Pinheiro Neto) que viveu nos bastidores da elite brasileira e que,  mesmo assim,  defendeu os direitos sociais dos trabalhadores da zona rural.
    Ao narrar o documentário,  procurei compreender  o cidadão e o político idealista que foi o meu pai,  João Pinheiro Neto  .
  Nascido em Roma,  no dia 4 de dezembro de 1928, João Pinheiro Neto,  além de político e advogado,  foi,  também,  professor e jornalista brasileiro .
   Meu avô, João Pinheiro da Silva Filho, foi, também,  advogado,  e deputado Constituinte entre 1933 e 1935. Minha avó,  Marina Barbará Pinheiro,  era herdeira da Companhia Metalúrgica Barbará.
  O pai de meu pai dirigiu a empresa fundada pelo sogro.
    Meu pai também foi neto de João Pinheiro da Silva,  presidente de Minas Gerais em 1890 e de 1906 a 1908.
  Foi,  ainda,  sobrinho de Israel Pinheiro,  deputado federal por Minas Gerais,  de 1950 a 1956, e governador de Minas Gerais,  de 1966 a 1971 .
    João Pinheiro Neto foi secretário particular de Juscelino Kubitschek, entre 1951 e 1960, no governo de Minas Gerais e na presidência da República  .
    Também exerceu o cargo de Procurador da Justiça do Trabalho.
    No governo de João Goulart, substituiu Hermes Lima no Ministério do Trabalho,  em setembro de 1962, mas,  foi destituído por ter feito duras críticas ao Fundo Monetário Internacional.
   Cassado pelo AI-1, o primeiro Ato Institucional,  no início do governo militar,  retornou ao trabalho de jornalista na Última Hora de Samuel Wainer.
   Também trabalhou,  nos anos 70, na Revista Manchete,  de Adolfo Bloch, foi professor universitário da Fundação Getúlio Vargas e,  em 1980, fundou seu próprio escritório   e,  em 2006, faleceu,  depois de lançar alguns livros sobre o que testemunhou,  na história brasileira.
    Minha mãe, Leda Maria D’Avila Pinheiro,  também deu depoimentos exclusivos para o documentário, que traz entrevistas de Maria Tereza Goulart,  Almino Afonso,  pesquisadores e historiadores.
    Narrado por Paulo Betti,  o documentário revela que,  por defender de modo apaixonado,  a Reforma Agrária de Jango,  meu pai foi acusado de ser subversivo . E, por isso,  foi preso.
    Emocionantes relatos de minha irmã,  Silvia Pinheiro,  mostram como João Pinheiro Neto se sentia um exilado em seu próprio país.
    Para muitos pesquisadores,  a gota d’água para o golpe militar aconteceu quando João Goulart assinou o ” Decreto da Supra “, que previa a desapropriação das terras improdutivas.