Artistas premiados relembram momentos inesquecíveis no Festival de Brasília
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Artistas premiados relembram momentos inesquecíveis no Festival de Brasília

Os filmes e personalidades que marcaram o Festival de Brasília em sua retomada foram pauta de uma das mesas da programação de atividades paralelas do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, nesta quinta-feira (17/12). Mediado pelo cineasta Sérgio Moriconi, o painel, que foi transmitido pelo YouTube da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), contou com a presença dos curador Silvio Tendler e de diretores, roteiristas e atores que passaram pela telona do Cine Brasília. Participaram Sérgio Fidalgo, Luís Turiba, Murilo Salles, Lírio Ferreira, Tata Amaral, Laís Bodanzky, Joel Pizzini, Edgard Navarro e Marcélia Cartaxo.

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“Os fazedores do Cinema Novo vieram com produções sociológicas que, aos poucos, emolduraram a identidade da retomada do Festival de Brasília”, pontuou.

Entre lembranças dos personagens e criadores que viveram e fizeram história durante as 53 edições do FBCB o ator e diretor carioca Sérgio Fidalgo abriu sua fala manifestando seu afeto pelo festival. “Esse festival foi praticamente a minha vida”.

Com a função de coordenador do evento de 2009 até 2016, Fidalgo contou que além das fotos antigas que guarda com carinho, ele destaca momentos considerados como memoráveis.

“A retomada do festival trouxe a presença maciça das mulheres com “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector e dirigido por Suzana Amaral, e a força do cinema pernambucano com o premiado “Baile Perfumado” de Lírio Ferreira”, enumerou.

A estrela do sucesso de Suzana Amaral, Marcélia Cartaxo, relembrou sua experiência em trabalhar com a primeira mulher a ser premiada no Festival de Brasília. Para viver a protagonista Macabéa, a atriz paraibana contou que foi apontada pela cineasta enquanto encenava uma peça de teatro em São Paulo.

Entre a lista de candidatas ao papel, Marcélia confiou que estrelar o longa-metragem seria o passaporte para sua carreira deslanchar. “Em novembro de 1985 estávamos no Festival de Brasília e fomos premiadas. Suzana era muito solidária e teve muito cuidado para preservar essa minha essência do interior”, reconheceu.

Com o curta “Viver a Vida”, em 1991, a cineasta Tata Amaral conta seu momento inesquecível ao ver uma 600 pessoas no Cine Brasília aplaudindo de pé sua produção. Premiado com quatro Candangos, o filme a motivou a produzisse um longa para concorrer ao festival. Retornando ao Cine Brasília em 1997 com o filme em parceria com o roteirista Jean-Claude Bernardet “Um Céu de Estrelas”, Tata descreveu a sensação de conseguir se expressar dramaturgicamente o que ela queria.

“Foi um momento especial pra gente durante a retomada. Estávamos com propostas distintas e frescas”, celebrou a diretora também premiada como melhor filme na edição de número 44 do evento, em 2011, por “Hoje”.

Agraciado com três estatuetas do Candango pela película “Nunca Fomos tão Felizes” em 1984, o diretor carioca Murillo Salles classificou que seu filme traduziu o festival naquela época.

“Festival de Brasília é à flor da pele. Essa plateia brasiliense é uma loucura! Brasília me deu a experiência de ter um reconhecimento popular de uma ordem que eu nunca tive”, completou.

Carregado de lembranças cheias de alegria, euforia e muita festa, o cineasta pernambucano Lírio Ferreira conta que era um jovem surfista de Recife e viu sua vida se transformar ao se sentir atraído pela magia do cinema.

Diretor do filme “O Baile Perfumado”, Lírio garantiu o Candango de melhor filme em 1996. Com um filme considerado um marco na retomada do cinema pernambucano (e brasileiro), o diretor reviveu seu nervosismo ao subir no palco do Cine em um momento tão especial. “Esse filme semeou essa rebeldia maravilhosa dos filmes pernambucanos. O cinema brasileiro é muito forte e é sinônimo de resistência”, pontuou.

Cinema que inaugurou o novo milênio, o longa “Bicho de Sete Cabeças” da diretora paulista Laís Bodanzky rendeu uma reação surpreendente do público durante sua exibição. Segundo Laís, quando o ator Rodrigo Santoro pisou no palco do Cine Brasília, o público começou a vaiar e só parou depois dos primeiros minutos de início da sessão. “As vaias foram sumindo, a plateia ficou em silêncio e na mesma proporção vieram os aplausos e as desculpas pelas vaias. A vaia é bonita, que provoca e desconcerta”, disse a diretora premiada pelo longa-metragem em 2001.

Para Edgard Navarro, suas lembranças do festival vão desde o chocante até o lírico. Desde os curtas “Porta de Fogo”(1985) e “Lin e Katazan” (1986), ambos vencedores do Candango na categoria, até o drama “Eu me Lembro” (2005), premiado por melhor roteiro e melhor longa-metragem, o cineasta baiano declara um grande sentimento por Brasília. “Fui do escatológico até o lírico nas telas do festival”, considerou.

Para o cineasta carioca Joel Pizzini, a sua maior lembrança do Festival de Brasília é o perfil politizado de seu público. Ganhador do Candango de melhor filme pelo longa “500 Almas” em 2004 e premiado pelo júri por “Anabazys” em 2007, Pizzini destaca que sempre quis fazer um cinema ético e poético e o FBCB deu espaço para realizar produções do gênero. “O Festival de Brasília ecoa o aspecto político e místico do Brasil. A ocasião catapulta o cinema que pensa e que sonha”, definiu.

Presente na maioria das atividades paralelas do festival, o curador Silvio Tendler agradeceu pela riqueza dos depoimentos. “Cada figura que vejo nessa tela é uma história, uma lembrança, luz e de vida inteligente, necessária para o Brasil”.

Por fim, a mesa composta por lembranças memoráveis do festival também contou com a leitura do poema do jornalista Luís Tiriba. “Ao sonho do poeta de fazer o cinema dele… O plano do cinema onde me enquadro é pobre, mas possui certo requinte. Tudo nesse filme é meio esdrúxulo e o sonâmbulo poeta é sem escrúpulo”, recitou.