Biblioteca Nacional vai exibir acervo de obras raras após a reabertura
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Biblioteca Nacional vai exibir acervo de obras raras após a reabertura

400 títulos poderão ser consultados no local por pesquisadores e apreciados pelo público em exposições após a pandemia

 

Texto: Alexandre Freire/Edição: Sérgio Maggio (Ascom Secec)

A Biblioteca Nacional de Brasília, maior biblioteca pública do Distrito Federal, ligada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), prepara um presente para pesquisadores e apreciadores de obras raras e preciosas no DF e no Brasil. Trata-se da Coleção de Documentos Históricos Brasileiros, voltada à memória nacional, e a Coleção de Obras Raras, formada por exemplares que possuem alguma particularidade notável.

O material – que ainda não havia sido divulgado porque não estava devidamente catalogado – é composto por cerca de 400 livros, que poderão ser consultados por pesquisadores credenciados e exibidos ao público mediante agendamento assim que o controle da pandemia da Covid-19 permitir a reabertura dos equipamentos públicos.

“Com a pandemia, conseguimos nos dedicar ao processamento das obras no sistema SophiA [software de catalogação] e estamos finalizando a organização do acervo para possibilitar consulta à coleção quando a biblioteca voltar ao atendimento”, conta a bibliotecária à frente do trabalho, Mariana Giubertti Guedes Greenhalgh (foto ao lado), mestre e doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília (UnB).

No acervo, há títulos como, por exemplo, a primeira edição do “Corpo de Baile”, de João Guimarães Rosa, de 1956, com dedicatória do autor. O mesmo ocorre com “A maçã no escuro”, romance de Clarice Lispector de 1961, com dedicatória da genial autora.

Há textos que registram o olhar de viajantes, como “The new Brazil”, de 1907, da escritora estadunidense de viagens Marie Robinson Wright. Na mesma toada, faz parte do acervo “Three thousand miles through Brazil from Rio de Janeiro to Maranhão”, de 1886, escrito por um certo viajante inglês James W. Wells.

Sobre a capital, uma obra considerada rara é o livro “Quanto custou Brasília”, de Maurício Vaitsman, com dedicatória do autor e assinado por Juscelino Kubitschek em 1968. Outra preciosidade é “Prelúdio da Cachaça: etnografia, história e sociologia da aguardente no Brasil”, do folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo, de 1968, com xilogravuras de J. Borges, artista e cordelista pernambucano.

A equipe da BNB contou com a ajuda do bibliotecário Raphael Diego Greenhalgh (foto à direita), que cuida da seção de obras raras da Biblioteca Central da UnB, na organização do material literário. Doutor em Ciência da Informação pela UnB, em pesquisa sobre roubo e furto de livros raros, e pós-doutor pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em ‘censura em Brasília durante a ditadura militar’, ele classifica o acervo como rico, apresentando uma gama diversa de obras, inclusive do século XVIII.

“Tem muito a contribuir com a preservação do patrimônio bibliográfico nacional, trazendo também importantes informações históricas aos usuários da BNB”, afirma Mariana, esposa de Raphael, bibliotecária e servidora da Secec.

Exposições

A diretora da BNB, Elisa Raquel Sousa Oliveira (foto abaixo), reforça que o acervo é constituído de material diversificado, oriundo de diversas coleções da própria Biblioteca Nacional, de acordo com dois critérios principais de seleção: raridade e preciosidade.

“Não basta que a obra seja difícil de achar ou antiga, é preciso também que seja única, inédita, faça parte de alguma edição especial ou apresente algum traço de distinção, como uma encadernação de luxo ou o autógrafo de uma celebridade”, explica a gestora.

Ela promete que, na reabertura da BNB, o público também poderá apreciar exposições que exibirão alguns desses exemplares raros. “A montagem de mostras de obras raras em bibliotecas tem também o propósito de despertar o sentimento de pertencimento na população, ao perceber o valor deste patrimônio que o Brasil possui”, defende.

Raridade-preciosidade

Mariana cita entre os critérios do binômio raridade-preciosidade as obras impressas entre os séculos XV e XVIII que trazem as primeiras impressões tipográficas e demais técnicas de impressões bibliográficas deste período cronológico, que são relevantes para a história e a memória deste meio de produção.

São exemplos livros sobre o Brasil até 1900; obras publicadas no Brasil até 1908, contemplando as primeiras publicações nacionais; textos de autores brasileiros até 1860 que contemplam as obras impressas fora do Brasil; primeiras edições de autores consagrados embasados na importância das personalidades, como os integrantes da Academia Brasileira de Letras, por exemplo; e primeiras publicações brasilienses até 1970, classificadas como “incunábulos regionais” da capital.

Mariana explica que “incunábulos regionais” é como se designam as primeiras publicações de determinado local. No caso de Brasília, livros desde o deslocamento para o local de construção, em 1956, até 1970 serão listados nessa categoria.

A lista de critérios não termina aí, e inclui, por exemplo, exemplares com dedicatória, assinatura, “ex libris” (marca acrescentada, como carimbos pessoais ou institucionais) ou outras marcas de propriedade. Segundo Mariana, marcas posteriores agregam valor à peça. “Muitas vezes, uma obra não é considerada rara isoladamente, mas o fato de pertencer a um contexto faz com que se torne rara, pelo seu conjunto e pela sua história”, sintetiza.

Também são considerados raros ou preciosos exemplares com edições reduzidas (até 1000 exemplares), livros de arte que apresentem constituição única ou artesanal, primeiras edições de fac-similares – reprodução de um documento com o mesmo aspecto e o mesmo tamanho do original –, reproduções fidedignas de obras que apresentam documentos importantes para a história e cultura nacional e internacional, e obras censuradas, clandestinas, recolhidas e apreendidas.

Mariana mudou seu objeto de doutorado ao mergulhar no universo de obras raras: “minha principal motivação foi que as pessoas não conseguem perceber a biblioteca pública como uma instituição que cuida da história nacional. Pensam mais como um espaço de empréstimo de livros, mas ela também pode ser depositária de nossa produção”, revela.