Carta dos ex-presidentes da FAPERJ ao governador Claudio Castro.
Rio de janeiro

Carta dos ex-presidentes da FAPERJ ao governador Claudio Castro.

Em protesto contra a demissão do biofísico Jerson Lima, da presidência da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, os ex-presidentes da FAPERJ,  Antônio Celso Alves Pereira,  Augusto da Cunha Raupp,  Epitácio Brunet,  Fernando Otávio de Freitas Peregrino,  Maria Isabel de Castro de Souza,  Pedricto Rocha Filho,  Renato de Andrade Lessa,  Ricardo Vieira Alves de Castro,  Roberto Acízelo  de Souza e Ruy Garcia Marques , enviaram carta ao governador Claudio Castro e ao secretário de Estado de Ciência,  Tecnologia e Inovação,  Anderson Moraes,  pedindo atenção ” para o delicado caso da atual sucessão da direção da Fundação, tornado público pela imprensa “.
  A exoneração de Jerson Lima e sua substituição por Caroline Alves, então presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) aconteceram na semana passada.
A Fundação é responsável por financiar estudos, pesquisas e bolsas para pesquisadores. A troca foi feita pelo governador Claudio André, a pedido do Secretário de Ciência e Tecnologia,  Anderson Moraes, que é deputado estadual pelo PL.
   Eis,  a carta:  “Ao longo da história, a humanidade enfrentou grandes e diversos desafios, e, em todas essas situações, o conhecimento científico e o desenvolvimento tecnológico, mesmo diante de intensos questionamentos negacionistas, proporcionaram contribuições significativas tanto para o enfrentamento quanto para a mitigação das consequências desses desafios, especialmente nas áreas de saúde, economia e nas questões sociais agravadas por tais crises.         Reconhecidamente, a pandemia da COVID-19 que assolou a população mundial colocou em xeque instituições internacionais, nacionais e dirigentes de entidades públicas e privadas em todos os países pela inexistência de meios técnicos ate então para contê-la. Nenhuma região passou incólume por esse verdadeiro “tsunami”. Gestores dos setores privado e público foram desafiados por situações emergenciais diárias, sendo obrigados a responder rapidamente às demandas que se apresentavam, de forma acumulativa e caótica. Mas, finalmente, sem dúvida, foi da ciência, sobretudo por meio de novas gerações de vacinas feitas em nos laboratórios de pesquisa tempo recorde, que emergiu a contenção dessa terrível ameaça que dizimava a cada dia milhares de vidas em todo o planeta. Tal evidência, embora demonstrada com muito sofrimento, fez com que a sociedade aprendesse o valor do conhecimento científico. Mas o impacto do ensino e da pesquisa das universidades sobre o desenvolvimento da ciência é demonstrado por meio de diferentes óticas, incluindo as de que o capital humano gerado por essas instituições constitui um dos indicadores mais importante do desenvolvimento econômico de um país. Vale destacar que em nosso País, mais de 95% do conhecimento científico provem das universidades, notadamente as públicas. Nesse contexto, é importante destacar que as atividades de ciência, tecnologia e inovação possuem tratamento próprio, conforme o Capítulo IV, do Título VIII da Constituição Federal. Embora não integrem diretamente o título da ordem econômica, a ciência, a tecnologia e a inovação estão estreitamente ligadas a esse campo, devido às externalidades que geram no desenvolvimento econômico e social das sociedades. É neste sentido, que as fundações de amparo à pesquisa exercem um papel crucial e constituem um pilar para o desenvolvimento e consolidação desse sistema de produção de conhecimento e, portanto, de novas perspectivas para as políticas públicas, visando gerar riqueza material, intelectual e bem estar às sociedades nas quais se inserem. Mas a FAP do Estado do Rio de Janeiro – Faperj- , se encontra em um contexto singular. Por razões históricas e conhecidas, em nossa região, se encontra uma das maiores densidades de instituições e atividades de pesquisa científica e tecnológica em todo o País se constituindo, esse sistema, em uma de suas maiores riquezas. Não foi por acaso que os legisladores à época determinaram que seus recursos fossem fixados pela constituição estadual para que ela cumprisse sua missão em manter, expandir e fomentar a pesquisa, o desenvolvimento de inovação e a formação científica e tecnológica, e dele pudesse extrair os frutos necessários ao desenvolvimento sociocultural, econômico sustentável e ambiental do estado. No entanto, para que tal objetivo seja alcançado e, em comunhão com as metas governamentais, é necessário que sua gestão seja conduzida por um perfil técnico, pautado na expertise científica e em relações com o nosso rico sistema de ciência, tecnologia e inovação. A adoção de critérios à margem do mundo científico e tecnológico para a escolha de seu dirigente poderia comprometer o próprio compromisso da instituição e do Estado, com a sociedade fluminense.
Sabemos que a gestão pública requer resiliência e escolhas duras, mas sempre com o olhar no futuro, e, por isso, acreditamos, Senhor Governador e Senhor Secretário, que possam considerar tais reflexões para uma escolha que possa refletir o perfil adequado para a Presidência da Faperj.
Isto posto, como ex-presidentes da Faperj, firmamos o presente documento, subscrevendo-o com cordial estima e distinção”.