CausART No Relato coloca Goiânia no mapa do rap
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CausART No Relato coloca Goiânia no mapa do rap

CausART No Relato coloca Goiânia no mapa do rap

Projeto de vídeos do rapper Donato no relato chega à web e abre espaço para conversas sobre temas ligados à arte

Em meio a um cenário forte de música sertaneja surge em Goiânia um artista que aposta em uma vertente pouco comum localmente, mas muito popular em todo o mundo: o rap. Depois de lançar três singles, Donato no relato apresenta mais um projeto, o “CausART No Relato”, uma série de vídeos com entrevistas e bate papos sobre os temas que envolvem cultura e arte. O primeiro deles já pode ser visto no canal do CausArt , traz como gancho o tema da música “Mãe” e contou com a participação da delegada da Polícia Civil de Goiás, Paula Meotti e da médica psiquiatra Denise Espíndola. Elas puderam falar da importância da música no combate à violência e na educação de uma sociedade mais justa. A partir de agora, todas as sextas-feiras, um novo capítulo chegará ao canal.

Donato sempre foi um apaixonado pelas rimas e começou a compor quando criança e sempre cantou como forma de extravasar seus sentimentos. Profissionalmente, seu pontapé inicial como artista foi o lançamento da música “Made In Goiânia”, com clipe disponibilizado no Youtube em novembro, e com menos de um mês alcançou 100 mil visualizações. A letra faz referência ao amor de Donato pela Capital, e de suas experiências pelo mundo quando teve oportunidade de morar na Europa. Atualmente já ultrapassa os 135 mil views, mostrando a força do estilo. “Desde criança eu sonhava em um dia poder conversar através da música. Sou filho de mãe solteira, criado na periferia, tem muita coisa pra falar e o rap tem a liberdade poética e de expressão que combinam comigo”, explica o artista.

Para dar vazão ao sonho de cantar, Donato criou um estúdio próprio o CausART, quem tem como missão estimular a produção de músicas ligadas a cultura do gueto, que segundo ele ainda enfrenta obstáculos, principalmente o preconceito por se tratar de uma arte que prioritariamente dá voz à periferia: “Quem cresce na periferia assiste de perto muita coisa que um garoto do centro nem imagina que existe. A cultura hip hop me salvou e me fez encarar tudo com mais clareza e pé no chão”, declara.

Através do CausART ele também estreou em 15 de dezembro o clipe de “Mãe”, um desabafo de Donato sobre a infância difícil ao lado de um pai violento. Com 15 dias no ar, a música já havia ultrapassado os 80 mil views. As cenas foram gravadas nos bairros em que o artista cresceu e contou com a participação do filho dele e de crianças da região, além de artistas goianos. A música tem tom forte de protesto, e “traz verdades que nem sempre as pessoas estão com vontade de ouvir”. Junto com a música, o artista também lançou uma campanha on-line que estimula a denúncia de casos de violência contra as mulheres pelo número 180.

Com o estúdio CausART ele pretende dar voz aos jovens artistas que, como ele, são limitados quando se trata de oportunidades. “Assim que a situação pandêmica permitir, vamos promover eventos que vão impulsionar o rap e a música de periferia. Esse era o planejamento inicial, e com certeza vai se concretizar.

Despertar

O nome Donato no relato faz parte desse despertar do garoto Daniel Morais, nascido e criado nas regiões dos bairros Santo Hilário e Jardim das Aroeiras, em Goiânia, e que se encontrou artista no convento onde passava o dia enquanto a mãe trabalhava. As aulas de arte, música e dança foram fundamentais nesse desenvolvimento que ainda levaria anos para se firmar como cantor e compositor. Ao longo de sua vida, enquanto lutava em trabalhos completamente fora do mundo artístico, ele compunha música, inclusive góspel, praticava capoeira e cada vez mais se via apaixonado por esse universo.

Mas foi apenas agora, aos 29 anos e pai de família, que se considerou maduro o suficiente para ser o artista que desejava. Em sua passagem pela Europa, morou na França e conheceu o rap feito lá. “Eu tive uma fase meio perdida, sem emprego e nesse período eu me envolvi com grupos artísticos franceses. Foi quando conheci o cantor Soprano que me inspirou a voltar a compor tanto em português quanto em francês, comecei a estudar a língua e a música francesa e fui salvo pela arte, mais uma vez”.

Donato chegou a cursar psicologia o que garantiu a ele um tom mais eloquente em suas canções, que tratam exclusivamente da realidade que ele vive. “ Quem cresce na periferia se não tiver muita persistência acaba desistindo de muita coisa . A arte no geral me fez encarar essas dificuldades com mais entusiasmo e esperança”, diz ao lembrar que o rap não necessariamente tem que ser só de protesto, mas é preciso respeitar sua história e ligação com a população carente de estudo, saúde, educação e oportunidades. Inclusive o mais recente clipe lançado nas redes, “Ma Cherie”, tem letra romântica e é cantada em francês e português.

Confira o canal: