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Clássico do Cinema Novo retorna ao Cine Brasília

Versão restaurada de Deus e o Diabo na Terra do Sol volta a brilhar

Texto: Lúcio Flávio / Edição: Sâmea Andrade (Ascom Secec)

Lançado em 1964, Deus e o Diabo na Terra do Sol, com sua narrativa épica barroca, é o filme mais significativo do cineasta baiano Glauber Rocha (1939 – 1981). Junto com Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, e os Fuzis (1964), de Ruy Guerra, representa um marco da moderna cinematografia brasileira, projetando internacionalmente o Cinema Novo, movimento que refletiu o Brasil dos anos 60 e 70 com uma verdade social nua e crua. Passados quase 60 anos, o clássico será exibido nesta segunda-feira (19), às 19h, no Cine Brasília, em versão restaurada em 4k, dentro das celebrações do Dia do Cinema Nacional.

“O filme colocou o Brasil no mapa da cinematografia mundial”, afirma o jornalista e crítico de cinema Sérgio Moriconi, programador do espaço gerido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). “É uma obra original que mescla influências do (cineasta russo) Sergei Eisenstein, de toda a vanguarda soviética, do (cineasta francês) Jean-Luc Godard e do neorrealismo italiano, inaugurando o cinema nacional adulto”, conclui.

Após a sessão, haverá um debate com a participação do diretor de cinema Lino Meireles e com Paloma Rocha, primogênita de Glauber, ambos responsáveis diretos pela restauração do filme. Participa também do encontro, a doutora em História Míriam Silvestre.

“Dia 19 será uma data de convergência: o Dia do Cinema Nacional com o maior filme de nossa história, do diretor mais renomado e reverenciado do país, na capital do Brasil, em uma sala que Oscar Niemeyer projetou, no ano da recriação do Ministério da Cultura”, afirma Lino Meireles. “Nossa capital é um dos polos culturais do país e, considerando o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, podemos dizer que todo o cinema nacional a partir de 1964 passou por aqui”, destaca.

O bem contra o mal

Deus e o Diabo na Terra do Sol é o segundo filme de Glauber após o seminal Barravento (1962), que o diretor roteirizou e produziu após a desistência de Luiz Paulino dos Santos. Muito da inspiração do roteiro do clássico, marcado por personagens fortes da cultura nordestina, teve inspiração na literatura de cordel.

Na trama convulsiva, o vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e a mulher Rosa (Yoná Magalhães) são obrigados a fugir para o sertão após desavença que acaba com a morte do latifundiário autoritário. Pelo caminho, depara com a figura do beato Sebastião (Lídio Silva) e do cangaceiro Antônio das Mortes (Maurício do Valle), que trava duelo antológico com o diabo loiro Corisco (Othon Bastos em atuação hipnótica).

Nas entrelinhas dessa saga delirante do bem contra o mal, o profano contra o sagrado, temas caros ao brasileiro como a miséria, a fome, a violência, as injustiças sociais, a luta de classe, enfim, ao som da voz tonitruante do cantor e compositor Sérgio Ricardo e dos rompantes líricos da música Heitor Villa-Lobos, o desejo do homem de ver “o sertão virar mar”.

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