Comes e bebes com Lady Di
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Comes e bebes com Lady Di

Por Angela Rocha – Jornalista e escritora .

Eu trabalhava no Gabinete do Prefeito do Rio de Janeiro, Marcello Alencar, quando veio a notícia de que receberíamos para um jantar, no Palácio da Cidade, o Príncipe Charles e a Princesa Diana. Estávamos em abril de 1991 e lembro que a notícia causou grande alvoroço.
Quem é mais jovem talvez tenha apenas a informação de quem ela foi. Mas, quem viveu aquela época sabe como aquele casal influenciou e marcou toda uma geração.
Primeiro, por um casamento de contos de fadas, em julho de 1981, assistido, via satélite, por mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. E, depois, por todos os desdobramentos da história conturbada e triste.
A Princesa Diana se tornou uma das mulheres mais famosas do mundo – um ícone de moda, ideal de beleza e elegância feminina. Lady Di, como ficou conhecida, era amada pelo povo britânico e idealizada por uma multidão de mulheres, mundo afora, que copiavam seu corte de cabelo e suas roupas.
E de repente… Eles estariam aqui, na minha cidade: mais precisamente no meu ambiente de trabalho. Acompanhei todo o movimento do cerimonial com os preparativos. O que servir de comida? Como seria a decoração? O que apresentar de nossa cultura em forma de espetáculo? Quem serão os convidados?
Esse, aliás, um capítulo à parte. Parecia que o Brasil inteiro queria estar naquele jantar. A verdade, é que ficamos dias administrando e repassando, ao cerimonial, pedidos de políticos, empresários, artistas. Todos disputavam o privilégio de estar em um jantar com a realeza.
No salão principal do Palácio da Cidade – de estilo georgiano, foi sede da embaixada do Reino Unido, quando o Rio de Janeiro era Capital Federal – a princípio, haveria uma grande mesa, só para os notáveis; e diversas outras espalhadas a seu redor. Quase à véspera do evento, ocorreu a necessidade de acomodar mais “convidados”. A solução foi abrir as portas do salão e colocar mesas extras na varanda.
E, foi nessa cota de carona que eu entrei.
Fiquei na mesa que acomodou as secretárias do prefeito, com uma visão estratégica direcionada ao casal real. No momento em que recebi esta informação, pensei: “Vou poder contar aos meus filhos e netos que jantei com a realeza britânica”.
O tempo passa e hoje escrevo para contar esta história real.
O grande dia chegou. Roupa comprada às pressas em uma loja do bairro, cabelo escovado… Última olhada no espelho. Mas, antes de sair de casa… bateu aquela insegurança: meu tailleur azul com gola de renda estaria adequado para um jantar tão importante e disputado?
Chego à portaria do Palácio, cumprimento os seguranças, recebo os mesmos cumprimentos respeitosos de sempre, mas percebo um olhar diferente; e, quando já estou alguns passos adiante, escuto o comentário:
– Quem precisa de princesa da Inglaterra? Nós já temos a nossa!
Ergo os ombros confiante e sigo em frente.
A noite começou perfeita. A princesa parecia flanar pelos tapetes do grande palácio da rua São Clemente, em Botafogo. Tudo nela tinha um quê de nobreza: O tailleur, de corte perfeito, adornado por pequenas joias; gestos discretos e postura muito elegante. O príncipe, apesar de desprovido de beleza, tinha a cara asséptica da riqueza. Ambos bem elegantes. Passei toda a noite a observá-los atentamente.
Ao final do jantar, depois do show da Beija-Flor, veio a despedida do príncipe, da princesa e todo seu entourage. Exaustos, nos reunimos, em uma das salas, para aquele famoso “vamos aos comentários” de fim de festa.
Enquanto todos falavam, eu continuava calada pensando. Tentava absorver e entender um estranhamento que sentia em relação àquela noite. Poderia jurar que vi umas sombras de tristeza nos olhos da princesa enquanto assistia ao show da sacada.
Uma amiga chega perto e me pergunta em voz baixa:
– O que você achou do casal real?
A palavra casal me fez elaborar o desconforto…não parecia um casal…observei-os a noite toda e não vi uma única troca de olhar. Interagiram com muitas pessoas, separadamente; mas, entre eles, em nenhum momento.
Foi quando alguém na sala começou a falar que corriam boatos sobre o casamento deles… que estariam juntos apenas cumprindo o protocolo.
A concretização dos comentários veio no ano seguinte, em 1992, quando o casal oficializou de público a separação e vazou o antigo envolvimento do Príncipe Charles com a amante, Camilla Parker.
Como lembrança desta história, para mim, ficou o prazer de ter participado daquele momento; ter visto aquelas pessoas de perto; ter jantado com a realeza…
Entretanto, mesmo nas grandes performances, sempre existe o dia seguinte que, quase inexoravelmente, traz o gosto amargo da vida real. Afinal, tudo é humano… Tão demasiadamente humano… que nem príncipe ou princesa escapa.