Festival de Brasília debate cinema negro
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Festival de Brasília debate cinema negro

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Com muita seriedade, mas com pitadas de bom humor, o cineasta e pesquisador mineiro Joel Zito Araújo recebeu, nesta quarta (16), as cineastas negras Renata Martins e Camila de Moraes, e ainda o ator, diretor e produtor Lázaro Ramos, para um debate virtual acerca da realidade da produção audiovisual negra no Brasil.

O encontro fez parte da programação do segundo dia do 53º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec).

A tônica da conversa, acompanhada por cinéfilos Brasil afora pelo canal You Tube da Secec, foram os desafios e dificuldades encontrados pelos profissionais negros do cinema brasileiro, seja como atores, ou em posições no topo da cadeia produtiva do audiovisual.

As queixas vão desde a falta de recursos até dificuldades na divulgação. A cineasta e jornalista Camila de Moraes passou oito anos tentando financiamento para o longa-metragem “O Caso do Homem Errado”, de 2017, que chegou à seleção final dos filmes brasileiros que tentariam uma vaga no Oscar daquele ano.

“Só consegui levar o filme ao circuito comercial com a ajuda do movimento negro”, contou Camila, que defende as ações afirmativas como mecanismo para que o negro ocupe o topo das produções audiovisuais.

O longa veio na esteira do movimento “Vidas Negras Importam” e aborda a história verídica de um operário negro executado na Porto Alegre dos anos 80, após ser confundido com um assaltante. “É a história se repetindo a todo o momento”, disse a gaúcha em referência ao caso recente, na mesma cidade, explorado exaustivamente pela mídia, assim como a história que conta no filme.

A paulista Renata Martins contou que, ao longo da vida profissional, se deparou com a inquietante pergunta: “Onde estão as mulheres negras do audiovisual?”. A resposta veio com “Sem Asas”, vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2020 na categoria curta-metragem. O filme conta a história de Zu, um garoto negro de 12 anos que sai de casa numa manhã para ir ao mercado e é abordado por policiais, sofrendo, a partir desse momento, um processo de “desumanização”. “Pra nós, negros e negras, o terror está aí, na luz do dia”, refletiu a diretora e roteirista.

Pra quem pensa que Lázaro Ramos se acomodou após mais de 20 anos de uma carreira de sucesso como ator, errou. Ele tem trabalhos em direção desde 2006, quando estreou com o documentário “Zózimo Bulbul”, e desde então não parou mais.

Ele montou sua própria produtora, a Lata, e lançou seu primeiro longa, “Medida Provisória – o Filme”, em 2019, adaptação de peça de 2011, que já abocanhou prêmios em importantes festivais internacionais.

“Não queria fazer um filme que fosse apenas uma denúncia, nem queria uma simples adaptação do teatro”, confessou durante o debate virtual. O longa é aguardado ansiosamente no Brasil, onde deve ser lançado no primeiro semestre de 2021, após a imunização contra a Covid-19.

Traz a história de um casal em confinamento, vivido por Thaís Araújo e Alfred Enoch, conhecido aqui por suas participações em Harry Potter e no seriado “How to get away with murder”. “Quem assistir ao filme em 2021 terá a impressão de que ele foi rodado durante a pandemia”, comentou, com humor, o cineasta.

Os visitantes do canal da Secec no You Tube interagiram o tempo inteiro com os participantes, direcionando perguntas pertinentes e indagando sobre seus próximos projetos. Nem o moderador escapou, e aproveitou pra falar de seu próximo filme, o longa de ficção “O pai da Rita”, com Ailton Graça e Wilson Feitosa, em fase de finalização. Na trama, dois sambistas muito boêmios, que não constituíram família, se deparam, na terceira idade, com uma filha, “que pode ser de um ou de outro, ou ainda de um terceiro”, relatou, com ironia, Joel.

Capitaneando a produção da webssérie “Empoderadas”, Camila esteve especificamente feliz neste dia, tendo recebido a notícia do recebimento de recursos para seu próximo filme, “Beije sua Preta em Praça Pública”. “Somos 54% da população. Somos a sociedade brasileira. O filme quer mostrar isso”, desabafou.