Exposição apresenta mais de 700 itens, entre obras de arte de mais de 200 artistas de todas as regiões do país e documentos e objetos, que dão um panorama da década de 1980 no Brasil
Vista por mais de 300 mil pessoas, a exposição “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” está no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, depois de ter sido apresentada com enorme sucesso no CCBB RJ. Com Raphael Fonseca como curador-chefe e Amanda Tavares e Tálisson Melo como curadores-adjuntos, a mostra apresenta cerca de 300 obras de mais de 200 artistas de todas as regiões do país, mostrando um amplo panorama das artes brasileiras na década de 1980. Completam a exposição cerca de 400 elementos da cultura visual da época, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos icônicos, ampliando a reflexão sobre o período.
O projeto é patrocinado pela BB Asset, gestora de fundos do Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Mário Perrone, diretor comercial e de produtos da BB Asset, destaca que a responsabilidade da gestora vai além da administração de ativos. “Patrocinar a exposição ´Fullgás´ reforça nosso compromisso com o futuro, investindo não apenas em resultados, mas também naquilo que transforma uma sociedade: a cultura e arte. Como a maior gestora de fundos do Brasil, temos a honra de contribuir para a preservação do legado cultural do país, inspirando novas gerações e promovendo um Brasil mais vibrante e consciente da sua rica história e expressão artística. Este é o tipo de investimento que gera valor para todos.”
“’Fullgás’, assim como a música de Marina Lima, deseja que o público tenha contato com uma geração que depositou muito de sua energia existencial não apenas no fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania. Uma geração que, nesse percurso, foi da intensidade à consciência da efemeridade das coisas, da vida”, afirmam os curadores.
A exposição será dividida em cinco núcleos conceituais cujos nomes são músicas da década de 1980: “Que país é este” (1987), “Beat acelerado” (1985), “Diversões eletrônicas” (1980), “Pássaros na garganta” (1982) e “O tempo não para” (1988). No pavilhão de vidro haverá obras tridimensionais e vídeos, apresentando um panorama do período para além da pintura. Neste espaço, entre outras, estará a obra “Coluna de cinzas” (1987), de Nuno Ramos, e uma instalação com balões do artista paraense radicado no Rio de Janeiro Paulo Paes. Na recepção central, ao lado da bilheteria, uma banca de jornal com revistas, vinis, livros e gibis publicados no período, com fatos marcantes da época, fará o público entrar no clima da exposição.
A mostra aborda o período de forma ampla, entendendo que seus questionamentos e impulsos começaram e terminaram fora do marco temporal de dez anos que tradicionalmente constitui uma década. Desta forma, a exposição abrange o período entre 1978 e 1993, tendo como marcos o final do Ato Institucional n° 5 e o ano posterior ao impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. “Consideramos para a base de reflexões este arco de quinze anos e todas as suas mudanças estruturais e culturais para pensarmos o Brasil: do fim da ditadura militar ao retorno a uma democracia que, logo na sequência, lidará com o trauma de um impeachment”, contam os curadores, que selecionaram para a exposição obras de artistas cujas trajetórias começaram neste período.
Nas artes visuais, a Geração 80 ficou marcada pela icônica mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada no Parque Lage, em 1984. A exposição no CCBB entende a importância deste evento, trazendo, inclusive, algumas obras que estiveram na mostra, mas ampliando a reflexão. “Queremos mostrar que diversos artistas de fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o ‘Videobrasil’, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores. Desta forma, “Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil” terá nomes de destaque, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leonilson, Luiz Zerbini, Leda Catunda, entre outros, mas também nomes importantes de todas as regiões do país, como Jorge dos Anjos (MG), Kassia Borges (GO), Sérgio Lucena (PB), Vitória Basaia (MT), Raul Cruz (PR), entre outros. Para realizar esta ampla pesquisa, a exposição contou, além dos curadores, com um grupo de consultores de diversos estados brasileiros.
Além das obras de arte, a exposição traz, ainda, diversos elementos da cultura visual da década de 1980, como revistas, panfletos, capas de discos e objetos, que fazem parte da formação desta geração. “Mais do que sobre artes visuais, é uma exposição sobre imagem e as obras de arte estão dialogando o tempo inteiro com essa cultura visual, por exemplo, se apropriado dos materiais produzidos pelas revistas, televisões, rádios, outdoors e elementos eletrônicos. Por isso, propomos incorporar esses dados, que quase são comentários na exposição, que vão dialogando com os elementos que estão nas obras de fato”, ressaltam Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo.
O catálogo digital da exposição será disponibilizado no site do CCBB, contendo fotos das obras e textos dos curadores e de autores de diversas regiões do Brasil, que abordam os tópicos centrais da exposição, analisando os diversos aspectos culturais deste recorte histórico. Depois do CCBB Brasília, onde ficará até o dia 27 de abril de 2025, a mostra seguirá para o CCBB São Paulo e posteriormente para o CCBB Belo Horizonte.
NÚCLEOS TEMÁTICOS
A exposição será dividida em cinco núcleos:
1 – “Que país é este” – reflete sobre o fim da ditadura militar e a passagem para a democracia. “Este núcleo traz questões relativas à política e à economia, debates em torno da Constituição, organização civil, variação das moedas, inflação, além de questões relativas à violência, pensando na herança da década de 1970 e da ditadura militar. Todos esses elementos estão colocados de uma maneira que questiona e tenta definir os rumos do país, a ideia de nação através de identidade e território”, contam os curadores. Desta forma, estão neste núcleo movimentos negros, de mulheres, indígenas e seringueiros, além do movimento punk, vinculado a debates políticos e sociais, assim como os debates em torno da Constituição e da redemocratização. Integram este núcleo obras que citam a ditadura e a tortura, como “Sem título” (1982), de Aprígio e Frederico Fonseca, os registros de movimentos sociais feitos pelo fotógrafo paraense Miguel Chikaoka, além de trabalhos de coletivos que começam a ocupar as ruas, algo até então não permitido pela ditadura militar, como o coletivo Manga Rosa. Arthur Bispo do Rosário também está neste núcleo com “Uma obra tão importante que levou 1986 para ser escrita”. O filme “Patriamada”, dirigido por Tizuka Yamasaki, feito durante do processo das Diretas Já, também integra este núcleo, assim como diversos outros trabalhos.
2 – “Beat acelerado” – traz obras e artistas que preferiram enfocar na nova aceleração do tempo, nos amores efêmeros, no prazer e na paixão pela cor. “Esse título remete ao corpo, à batida do coração, à empolgação, ao frenesi, e está mais em diálogo com artistas associados à pintura e ao desenho, com a comemoração e a negação da austeridade da arte dos anos 1970, que era vista como muito racional”, afirmam os curadores. Este é o maior núcleo da exposição e tem muitas obras onde a cor desempenha um papel central, como “Com que está a chave do banheiro 10?” (1989), de Beatriz Milhazes, e “Cérebro em stand” (1988), de Leda Catunda, mas também vídeos e esculturas, que trazem a ideia de emoção, como “Hommage aux marriages” (1989), de Marcos Chaves. “É o núcleo da abertura, da possibilidade de viver em um mundo colorido após a saída da ditadura”, contam os curadores. Neste núcleo também estão obras como a camisa “Overgoze” (1981), de Eduardo Kac, na época parte do Movimento de Arte Pornô, e “Dois coqueiros” (1990), de Ciro Cozzolino, entre muitas outras, além de diversos elementos da cultura visual da época.
3 – “Diversões eletrônicas” – traz artistas que mergulharam em um futurismo típico do momento histórico no qual a televisão desempenhou papel essencial, assim como as novas invenções tecnológicas e o desejo pela expansão aeroespacial. “É a experimentação no campo da arte a partir do acesso a determinadas mídias eletrônicas e pela expansão das mesmas – computadores, fotografias, videocassetes e walkmans, por exemplo. Há trabalhos que fazem uma experimentação com essa tecnologia e outros que vão representar esses elementos”, contam os curadores. Exemplos disso são as obras “Painel de controle” (1987), de Luiz Hermano, e Carro” (1980), de Jailton Moreira. Há, ainda, pinturas que incorporam a TV, como uma série de trabalhos em xerox, de Alex Vallauri e “Família materialista” (1982), de Cristina Salgado, ou a obra “Caderno Juquinha” (1980), de Lívia Flores, com referências da televisão e do design. Neste núcleo, estão também obras dos artistas baianos Leonardo Celuque – “Rastro de cometa” (1989) – e Jayme Figura – capacete feito de sucata “Sem título” (1980).
4 – “Pássaros na garganta” – neste núcleo estão presentes artistas que observavam mais a natureza e as discussões ecológicas do momento, assim como questões relativas à propriedade de terra e às consequências trágicas do capitalismo selvagem. Neste núcleo estão paisagens, como as obras “Lacrima Christie” (1989), de Cristina Canale, “O pranto dos animais II” (1989), de Hélio Melo e “Barranco” (1982), de Jacqmont, mas também trabalhos que alertam para as questões ambiental e indígena. Neste núcleo está a pintura da série “Césio 137” (1986), de Siron Franco, e os estudos para mosaico do Palácio da Cultura de Eliezer Rufino, feitos a partir de uma cultura visual de herança indígena. Há, ainda, a pintura na parede “Sem título” (1980), de Otoni Mesquita. “Esse núcleo vem quase como uma relação sublime sendo resgatada com a natureza, mas no sentido de uma natureza tanto quanto potencial de referência para a produção pictórica quanto de um assombro com as questões ambientais que atravessaram o período e que ganham visibilidade e debate no contexto da ECO 92, com pautas colocando a nossa vulnerabilidade enquanto existência no planeta”, dizem os curadores.
5 – “O tempo não para” – quinto e último núcleo da exposição, reflete sobre a passagem do tempo, conectando-se também com o nome da exposição, “Fullgás”, música de Marina Lima. “Este núcleo reúne obras que pensam a respeito da finitude e de como há uma discreta melancolia em todos os elogios ao excesso tão atribuídos a essa geração”, contam os curadores. Integram este núcleo trabalhos como “Mapa a cores” (1987), de Ana Amorim, que aborda sua localização e seus trajetos, “Sem título” (1990), de Fernanda Gomes, que fala da passagem do tempo através de papéis de cigarro acumulados, “As ruas da cidade” (1988), de Leonilson, “Entre céus e ruínas” (1992), de Leila Danziger, além das “Polaroids” (1980), de Fernando Zarif, e do vídeo “O profundo silêncio das coisas mortas” (1988), de Rafael França, entre outras.
Fullgás – artes visuais e anos 1980 no Brasil
Período: até 27 de abril de 2025
Local: CCBB Brasília – Recepção Central, Galerias 3 e 5 e Pavilhão de Vidro
Funcionamento: De terça-feira a domingo, das 9h às 21h
Classificação indicativa: livre
Entrada gratuita mediante retirada de ingresso na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura.
CCBB Brasília
Funcionamento: De terça a domingo, das 9h às 21h
Endereço: SCES Trecho 02 Lote 22 – Edif. Presidente Tancredo Neves – Setor de Clubes Especial Sul – Brasília – DF
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