Pela primeira vez na história do Parque Nacional do Xingu, queimadas criminosas assolam o parque indígena de maior diversidade étnica do Cerrado brasileiro e com a maior taxa de preservação de fauna e flora naturais entre a Amazônia e o Cerrado. A natureza do Xingu chora e pede socorro.
Quem conhece o Xingu e toda sua natureza exuberante, jamais poderia supor que as queimadas alcançariam o berço das diversas etnias indígenas do nosso Brasil Central.
O Brasil vive seu pior momento com relação às queimadas. O fogo atinge diversos biomas terrestres, incluindo a Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e até os Pampas. Nunca se ouviu falar de tanta devastação em tão pouco tempo. A grilagem expande e com o descaso do atual governo, aceleram as ações criminosas contra populações indígenas e contra a natureza.
As aldeias indígenas prejudicadas no Parque
O Parque Nacional do Xingu é um verdadeiro santuário étnico que abriga milhares de indígenas de grupos diferentes. Os focos de incêndio se espalharam pela maior parte do Alto Xingu e chegaram nos territórios Matipu, Nafukuá, Kalapalo e Kuikuro. Os próprios índios estão se reunindo em mutirões, tentando conter a fúria do fogo e a forte fumaça que se aproxima de suas casas.
O governo federal ainda não se manisfestou para ajudar na contensão do fogo. O Brasil vive um dos piores momentos na história com relação ao meio ambiente. Os povos indígenas sofrem as conseguências, além da pandemia do novo Corona Vírus que se aproxima da vida dos índios, eles tentam sobreviver ao homem e as diversas queimadas e invasões que batem às portas do seu território.
ROBERTO MARTTINI: imersões no Parque Indígena do Xingu
Meus primeiros contatos com as nações indígenas do Xingu começaram no ano de 2008 quando fui levado ao Parque pelo pajé Sapaim Kamaiurá e conheci o grande Cacique Tacumã Kamaiurá e sua filha Mapulú, primeira pajé mulher da aldeia. O destino me levou a conhecer o famoso Ipavú do Alto e a famosa lagoa do Morená, onde residem os espíritos, mas foi o contato estreito com a nação indígena Mehinaku, que me fez voltar diversas vezes ao Xingu.
Fui adotado espiritualmente pelo grande cacique Tamalui Mehinaku, desde antão, sempre que posso regresso ao Xingu. O fato de fazer parte da Fundação Turisindio e da Comissão de Amigos da Casa do Índio, me deixou próximo de muitas nações indígenas do Brasil, mas costumo de dizer que parte da minha alma está nesse lugar, não somente pela minha família espíritual, mas por toda natureza da região. O fogo consume o Xingu e também o coração dos que tem alma Xinguana, indígenas e os próprios índios. O mundo precisa se voltar nesse momento para o Xingu.