Fundador do Wikileaks se declara culpado de acusação de conspirar para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais. Acordo permite que ele retorne à Austrália, encerrando drama jurídico de mais de uma década.
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, deixou a prisão no Reino Unido depois chegar a um acordo judicial com autoridades dos Estados Unidos que colocou fim ao seu drama jurídico de anos.
“Julian Assange está livre. Ele deixou a prisão de segurança máxima de Belmarsh na manhã de 24 de junho, depois de passar lá 1.901 dias”, anunciou nesta terça-feira (25/06) o portal WikiLeaks em seu perfil na rede social X (antigo Twitter). O jornalista já saiu do Reino Unido e estaria num avião fretado que fez um pouso em Bangkok e cujo destino é a Austrália. Mas antes ele deve passar ainda nas Ilhas Marianas para firmar o acordo com a Justiça americana.
O portal afirmou que Assange, de 52 anos e nacionalidade australiana, “recebeu liberdade sob fiança do Tribunal Superior de Londres e foi liberado à tarde no aeroporto de Stansted, de onde embarcou num avião e deixou o Reino Unido”.
“Depois de mais de cinco anos numa cela de 2×3 metros, isolado 23 horas por dia, ele logo irá se reunir com sua esposa, Stella Assange, e seus filhos, que só conheceram o pai atrás das grades”, acrescentou o portal. O Wikileaks também divulgou um vídeo que mostra Assange lendo papéis e depois subindo os degraus de um avião.
As acusações que pesavam contra Assange
Assange foi libertado após chegar um acordo com a Justiça americana. Ele é acusado nos EUA de, juntamente com a ex-militar Chelsea Manning, a primeira grande fonte do Wikileaks, roubar e publicar documentos secretos das operações militares americanas no Iraque e no Afeganistão. Segundo os promotores, isso teria colocado em risco também a vida de informantes dos Estados Unidos. Em 2010, o então vice-presidente americano, hoje presidente, Joe Biden, chamou Assange de “terrorista de alta tecnologia”.
Assange, porém, não é o responsável pela publicação dos dados completos e sem edição. Em 2010, o Wikileaks reuniu um grupo de grandes organizações de mídia para produzir reportagens com as informações vazadas. Faziam parte do grupo The New York Times, The Guardian, Le Monde, Der Spiegel e El Pais. A senha da pasta onde estavam os documentos foi publicada num livro pelos jornalistas envolvidos no projeto. O Wikileaks só publicou as informações depois que elas já eram públicas.
Assange era acusado com base na Lei de Espionagem – uma legislação promulgada há mais de cem anos para condenar espiões e traidores da pátria durante a Primeira Guerra Mundial. Essa lei nunca havia sido usada contra jornalistas.
Até agora, o governo americano não apresentou evidências de que alguém tenha sido prejudicado devido à publicação dos documentos. Além disso, argumenta que Assange não é jornalista, alegando que ele seria um hacker por ter publicado os documentos sem apresentá-los num contexto. Por outro lado, Assange ganhou vários prêmios jornalísticos. Mas esse ponto não é relevante para a acusação, pois a Lei de Espionagem não diferencia entre jornalistas e outros cidadãos.
Acordo com Justiça americana
A justiça dos EUA acusou Assange de até 18 crimes relacionados a violações da Lei de Espionagem devido a um dos maiores vazamentos de informações confidenciais da história do país. Segundo o acordo firmado com o Departamento de Justiça, Assange vai se declarar culpado de uma única acusação: a de conspirar para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais. O acordo, que ainda precisa ser aprovado por um juiz, prevê que Assange seja condenado a 62 meses de prisão, o equivalente ao tempo que já cumpriu na prisão de alta segurança de Belmarsh, no Reino Unido.
Assange comparecerá na quarta-feira, às 9h locais a um tribunal nas Ilhas Marianas, um território dos EUA no Oceano Pacífico, para finalizar o acordo que permitirá o seu retorno à Austrália. A audiência ocorrerá nas Ilhas Marianas devido à proximidade com a Austrália e à oposição de Assange em viajar para o território continental dos EUA.
O jornalista estava detido em Belmarsh, no leste da capital britânica, desde 2019, quando foi preso após sete anos exilado dentro da embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de abuso sexual, algo que ele sempre negou. Posteriormente, a Justiça sueca arquivou o caso.
Desde então que os EUA tentavam a extradição de Assange , e o jornalista vinha enfrentando uma batalha legal para impedir a deportação. Organizações de liberdade de imprensa pediam a libertação de Assange há anos, e a esposa dele, Stella, liderava uma campanha em sua defesa envolvendo celebridades e personalidades políticas.
O acordo alcançado não foi totalmente inesperado. O presidente Biden estava sob pressão para encerrar o caso de longa data contra Assange. Em fevereiro, o governo australiano fez um pedido oficial nesse sentido, e Biden afirmou que iria considerar a questão, aumentando as esperanças entre os apoiadores do ativista de que fosse alcançada uma solução em breve.
cn/as (Efe, AFP, Lusa)