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Como a IA e as redes sociais afetam o senso crítico?

Por Alexandre Pierro

Soa improvável imaginar nossa sociedade vivendo suas rotinas sem o uso dos inúmeros recursos digitais que temos atualmente, das quais podemos destacar a inteligência artificial (IA) e as redes sociais. Seja para fins profissionais ou de lazer, essas tecnologias estão presentes em diversas tarefas do nosso dia a dia – as quais, por mais benefícios incontestáveis que tragam, também estão impactando, negativamente, o senso crítico das pessoas. Um efeito preocupante que pode gerar consequências ainda maiores se não for devidamente compreendido e combatido.

Ambos os recursos estão fortemente presentes em nosso país. Em 2024, como exemplo, dados do Datareportal identificaram que o Brasil contava com 144 milhões de usuários ativos em redes sociais, representando 66,3% da população total. Quanto o uso da IA, o cenário não poderia ser diferente: três a cada quatro brasileiros utilizam essa tecnologia no trabalho, segundo uma pesquisa feita pela Opsos e pelo Google – considerada como algo crucial para lidar com informações complexas e encontrar soluções inovadoras para os desafios empresariais.

Nem toda tecnologia, contudo, apresenta apenas vantagens. Mesmo que amplamente utilizadas pela sociedade, a IA, como exemplo, apresenta um enorme desafio de ampliação no que condiz seu consumo energético. Estima-se que é necessário usar mais de 10 vezes energia para uma pesquisa em IA em comparação aos buscadores tradicionais. Nas redes sociais, o empecilho é quanto a disseminação e fake news, o que se mostra cada vez mais difícil no âmbito de polarização global.

Tanto a  médio quanto longo prazo, há uma desvantagem mais preocupante no uso excessivo desses recursos, os quais poderão impactar, severamente, o foco e senso crítico das pessoas. Isso porque, todo dia, somos expostos a uma enxurrada de informações (pandemia de informação), cuja análise e verificação dessa alta quantia acaba se tornando um grande desafio sem a devida orientação de mecanismos seguros para isso.

Com o foco dos usuários gradativamente sendo prejudicado, esse senso crítico se torna cada vez mais difícil de ser aplicado. Afinal, em um mundo cada vez mais instantâneo, é complexo separar tempo de qualidade para aprofundar o tema e verificar se ele está correto ou não. Saber, em outras palavras, “minerar” e separar o “joio do trigo” no que tange as informações recebidas no dia a dia.

Indo além desse impacto na superficialidade nas informações, muitos estudos acadêmicos mostram uma correlação do aumento da ansiedade e depressão por conta da utilização massiva das redes sociais, além de correlação a outros distúrbios associados pelas diversas horas conectados e plugados em uma tela. Foi o que mostrou o Panorama da Saúde Mental 2024, realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel – o qual informou que 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo dessas plataformas.

No mercado, a falta desse senso crítico também tende a prejudicar a inovação, a qual é criada e investida, principalmente, para solucionar dores e problemas da sociedade. Uma das grandes “entradas” para gerar a inovação é o conhecimento sobre algo, porém, quando não entendemos esse algo e delegamos essa análise para uma tecnologia, muito se perde no processo, elevando o impacto na criação de novos produtos, serviços, processo e, consequente, na inovação.

Estamos em um cenário delicado em conciliar, de forma saudável e inteligente, o uso dessas tecnologias em nosso cotidiano, sem que afetem nosso senso crítico e desencadeiem impactos severos para a população e todo o mercado. E, no que tange as empresas, a melhor forma de evitar ou mitigar esses problemas é a utilização de modelos de governança destinados a analisar cada um desses pontos e fornecer orientações mais precisas de como usufruir desses recursos da melhor maneira possível.

Um dos modelos que mais vem se destacando nesse sentido é a ISO de Inovação, metodologia recém-publicada que visa analisar todas as oportunidades e ameaças do mercado e de tecnologias para gerar a inovação dentro das organizações. Ela fornece as melhores diretrizes a serem seguidas por cada empresa, a fim de que conquistem seus objetivos e aspirações de destaque competitivo.

Não há como eliminar a IA ou as redes sociais das nossas rotinas, o que exige uma alta responsabilidade em manuseá-las com inteligência, de forma que sejam aliadas benéficas ao invés de tecnologias prejudiciais ao senso crítico da população. Com esse discernimento e o apoio de metodologias robustas nesse sentido, teremos em mãos soluções altamente eficazes para nossas tarefas.

Alexandre Pierro é mestre em gestão e engenharia da inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e especialista de gestão da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.

 

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