Cresce número de crianças não alfabetizadas na primeira infância no Brasil
Educação

Cresce número de crianças não alfabetizadas na primeira infância no Brasil

No Dia Mundial da Alfabetização, especialista defende que mudança desse cenário passa por um esforço conjunto e coordenado entre escolas, governos e família

A alfabetização permanece como um grande desafio para o Brasil, que ficou ainda maior após a pandemia da Covid-19. O índice de crianças, que até o fim de 2021, cursavam o 2º ano do Ensino Fundamental, mas não estavam alfabetizadas, aumentou para 56,4% dos alunos nessa faixa escolar. Percentual bem acima dos 39,7% registrados no ano de 2019. Os dados são da pesquisa Alfabetiza Brasil, do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

Os dados refletem a importância social do tema, que se não for sanado implicará seriamente no desenvolvimento e produtividade durante a vida adulta desses, hoje, pequenos estudantes. Neste 8 de setembro, Dia Mundial da Alfabetização, temos um momento oportuno para entender que a mudança desse cenário passa por um esforço conjunto e coordenado entre escolas, governos e famílias. Essa pelo menos é a avaliação da pedagoga, especialista em psicopedagogia, pedagogia sistêmica e gestão escolar, Sabrina Oliveira, que também é diretora do Ensino Fundamental da Maple Bear – Escola Canadense  de Goiânia.

A especialista explica que a alfabetização é um processo que envolve várias capacidades a serem desenvolvidas na criança, como a habilidade de escuta, da linguagem oral, da leitura e da escrita. “Esse processo se inicia desde quando a criança entra na escola, mas também quando é estimulada fora do ambiente escolar. Ele evolui no momento em que a criança começa a fazer uso de diversos repertórios culturais e a adquirir consciência fonológica”, detalha.

Sabrina observa que o processo da alfabetização pode ser comparado a uma viagem: em que mais importante do que um ponto a ser alcançado é o percurso que a criança fará na sua jornada de aprendizagem. “É muito válido, desde a primeira infância, a partir dos dois anos, fazer uso de música, rimas, jogos, entre outras atividades lúdicas que estimulem a curiosidade e interatividade da criança”, orienta a especialista.

Consciência e aprendizado

A pedagoga explica que na Maple Bear,  que adota também a grade curricular do Canadá em paralelo ao ensino regular no Brasil, os alunos da alfabetização têm a sua disposição um extenso repertório de livros, brinquedos, atividades lúdicas que levam a interação com o meio, com os outros alunos e consequentemente a um aprendizado de forma natural. “Desenvolvemos diversas atividades como jogos e montagens. A professora também realiza a leitura de histórias em voz alta, para que os alunos menores desenvolvam a consciência fonológica e assim reconheçam os sons das palavras”, explica Sabrina Oliveira.

Na escola em que atua, Sabrina conta que utiliza, desde a primeira infância, uma metodologia que traz a linguagem como arte. “A criança vai desenvolver a arte da linguagem. Então, mesmo que ela ainda não consiga ler, é importante que desenvolva o amor pela leitura, o desejo por ler e escrever e isso acontece quando a criança é estimulada a perceber que pode usar muito a sua imaginação”, esclarece. E mesmo, em uma escola bilíngue, como é o caso da Maple Bear, a metodologia deve seguir esse padrão. “O ambiente bilíngue, além de não causar confusão, pode servir como mais um estímulo para a aprendizagem dessa criança, inclusive na fase da alfabetização, entre os 5 e 6 anos de idade, quando se desenvolve a consciência fonológica”, argumenta a especialista.

De acordo com a psicopedagoga, um método de alfabetização sem esse contexto lúdico para a criança e que não considera a jornada individual de cada um acaba virando uma frustração. “Quando você tem uma metodologia que exige da criança algo para o qual ela ainda não tem maturidade cerebral, isso pode desenvolver nesse aluno da alfabetização uma aversão à leitura e à escrita”, alerta a especialista.

Aprender com diversão

Por isso, segundo explica a pedagoga, é importante apresentar a linguagem de maneira divertida e nivelada, considerando o ritmo de cada aluno, e sem pressa, incentivando as crianças a interagir de forma positiva com os adultos e a ter um espírito crítico na sua própria experiência literária. “Ter esse senso crítico dos diferentes níveis de literatura, antes mesmo de conseguir escrever, gera uma consciência de aprendizagem muito profunda e duradoura, o que facilita o aprendizado de diversas disciplinas como a matemática, um dos grandes desafios do currículo escolar no Brasil”, explica a especialista

Sabrina ainda destaca que dentro desse processo de alfabetização é de suma importância criar um vínculo com o professor, num ambiente de estímulo constante, para que a criança se sinta mais encorajada a avançar cada vez mais. Também é fundamental integrar os pais nesse processo. “Não podemos deixar de lado o papel dos pais e responsáveis nesta jornada. O apoio deles faz toda a diferença para engajar os alunos na leitura, o que também reforça o vínculo já existente”, ressalta.