Da esquerda à direita, orgulho pelo país e a valorização da natureza são os elementos que unem os brasileiros
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Da esquerda à direita, orgulho pelo país e a valorização da natureza são os elementos que unem os brasileiros

Estudo realizado pela Morada Comum em parceria com a Quaest segmentou a população com base em valores e buscou identificar qual a contribuição de cada grupo para a agenda de mudanças climáticas.

A organização não-governamental Morada Comum, que trabalha para construir consensos em torno da agenda de mudanças climáticas, anuncia hoje os resultados de uma extensa pesquisa realizada no segundo semestre de 2023. O estudo “Na Raiz do Brasil”, foi criado em parceria com o instituto Quaest, com o objetivo de traçar um panorama da sociedade brasileira e identificar temas que conectam a população. A principal descoberta foi que o Brasil não está dividido em dois pólos e que a população converge quando perguntada sobre o seu orgulho pelo país e sobre as agendas de clima e proteção ambiental.

A pesquisa ouviu 4.072 pessoas de todo o país para entender os indivíduos para além das divisões político-partidárias e identificou os principais elementos que unem as pessoas. O estudo revelou que 79% dos brasileiros sentem orgulho da nacionalidade e que, destes, 45% apontam a natureza como principal motivo.

A preocupação com as mudanças climáticas, segundo o estudo, também já faz parte da norma social. Para 97% dos entrevistados a crise climática já é uma realidade.

Nathalia Rocha, diretora da Morada Comum, explica que a motivação para a pesquisa foi que “para encontrar soluções para as mudanças climáticas, é fundamental que a maioria da população não apenas entenda que essa crise existe, mas também participe para que possamos buscar saídas. O cenário de polarização e a inacessibilidade dos debates sobre essa pauta, no entanto, dificultam este trabalho, uma vez que deterioram a capacidade de grupos políticos trabalharem juntos e criarem políticas públicas efetivas e responsáveis para o benefício de todos”.

Segmentação

Além de compreender os elementos que definem e melhor representam a população brasileira, o estudo também busca identificar quais grupos compõem o país. Adotando como critério as crenças sobre a importância da religião para si e nas escolhas políticas, sobre o papel do Estado na economia, a confiança nas instituições e também os valores ambientais foi possível identificar sete perfis de brasileiros, com semelhanças entre os seus membros. São eles: a engajada progressista (8%), a defensora de um Estado forte (23%), a otimista solidária (9%), o desiludido com a política (12%), o empreendedor pragmático (12%), a mãe de família religiosa (26%) e o defensor da pátria e da família (10%).

A análise deste resultado indica que, enquanto há dois grupos menores com posições consistentemente opostas, a engajada progressista e o defensor da pátria e da família, há uma grande maioria composta por cinco grupos com visões mais moderadas. Eles muitas vezes são alijados das discussões políticas, especialmente sobre os temas ambientais, que são amplamente dominados por abordagens polarizantes.

“Ao analisar o país a partir de suas nuances, identificando os pontos mais latentes de cada uma das peças deste mosaico que é o Brasil, nosso objetivo foi tentar entender qual a contribuição que cada segmento poderia trazer para a discussão sobre enfrentamento das mudanças climáticas e quais as soluções que poderiam emergir de seus valores e prioridades. O empreendedor pragmático, por exemplo, é o grupo que nos ajudará a contrapor a dicotomia entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico, enquanto a mãe de família religiosa pode nos mostrar os caminhos para conciliar Deus, família e natureza”.

Outros achados da pesquisa

O levantamento abordou diversos outros temas não relacionados ao meio ambiente, que também trouxeram dados interessantes para a compreensão da divisão da sociedade brasileira a partir de seus valores e crenças. Por exemplo, a maioria (quatro em cada cinco brasileiros) concorda que a oferta de serviços básicos, como saúde e educação, deve ser responsabilidade do Estado e não da iniciativa privada. Em relação à influência da religião sobre o governo, 61% concordam que o Brasil deveria ser guiado por princípios cristãos. Esse percentual cai para 47% quando a pergunta é se “políticos deveriam basear suas decisões em valores religiosos”.

Um aspecto que inspira preocupação é em relação à crença sobre se as próximas gerações viverão em um mundo melhor que o que temos hoje. Para 62% o cenário será pior. Outros 31% acreditam que o planeta estará melhor e 7% não responderam ou não souberam opinar sobre o tema.

nnzAcesse a pesquisa e o infográfico aqui.