Dia da saudade: como goianos que moram no exterior matam a saudade da terra do pequi
Gastronomia

Dia da saudade: como goianos que moram no exterior matam a saudade da terra do pequi

Próximo domingo (30) é comemorado o Dia da Saudade; data reforça lembrança da comida e cultura goiana para quem deixou de morar no Estado

Ser de Goiás implica em manter uma boa relação com a tradição, comida típica, identidade cultural, memória, sempre em busca das raízes. O goiano do pé rachado não despreza uma pamonhada e teima em dizer: ei, trem bão, ao ver a felicidade passar na janela, e exclama viche, quando se assusta com a presença dela, como já dizia o escritor e professor José Mendonça Teles. Em crônica publicada em 1998, o escritor defende que ser goiano é “cultivar a goianidade como herança maior. É ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade”.

E como ficam os goianos quem moram fora do Estado ou mesmo em outro país? Muitos nutrem grande saudade, sentimento que é celebrado neste 30 de janeiro, considerado o Dia da Saudade. A data ajuda a reforçar a lembrança da terra do pequi no coração dos que estão distante.

Cerca de 300 mil goianos estavam morando no exterior em 2011, segundo estimativas da Secretaria de Assuntos Internacionais do Estado de Goiás, com base no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Hoje, o número deve ser bem maior. De acordo com levantamento do Ministério das Relações Exteriores, em 2020 a comunidade brasileira no exterior ultrapassou os 4,2 milhões de cidadãos, o que representa o aumento de mais de 600 mil se comparado ao último dado de 2018. As mais expressivas mudanças foram para os Estados Unidos, Portugal, Paraguai, Reino Unido e Japão.

Saudade da terrinha

A administradora de empresas Sâmora Duarte, que atua em uma empresa de manutenção em equipamento endoscópio, relatou que está há três anos em Madrid. “No primeiro ano foi difícil encontrar produtos brasileiros para que pudesse matar a saudade da terrinha. O que eu sinto falta, que é muito caro aqui, é de uma garrafa de aguardente. Até colocaria em uma caneca a frase Ahoooo, meu Goiás véi que tanto falo e sinto falta”, explicou.

De acordo com a administradora, ela nunca se acostumará com a comida espanhola porque sempre faz suas refeições em casa diariamente. “Quando saímos sempre pesquisamos o restaurante para saber se é do agrado do estômago. Principalmente para comprar comidas específicas como paçoca, marmelada, pão de queijo, chocolate, goiabada, refrigerante e massa de pastel que aqui eles nem conhecem”, ressaltou.

Ela conta que usa a tecnologia para amenizar a saudade da família e amigos através de ligações por vídeo. “Conhecia muita gente no Brasil, sinto falta de andar pelas ruas, conversar com as pessoas. Mas sempre os vejo pelo telefone. Outra forma é frequentar uma loja brasileira próxima da minha residência e uma churrascaria que toca samba. Fazemos comida tipicamente goiana também”, relatou.

Oportunidade

Para o empresário, Evandro Duarte, criador do Enquanto Isso em Goiás, um dos maiores portais de humor do Estado, a cultura goiana é algo que não podemos deixar esquecida na memória. “Como as cavalhadas, as festas de peão nas cidades goianas. Também temos a queima de alho, a caminhada da fé e outras que a goianada que está lá fora sente muita falta. Uma forma de matar um pouco da saudade é pelas redes sociais,” frisou.

Evandro viu a questão da saudade dos goianos que moram fora como oportunidade de empreender. Há quatro anos, ele abriu em Goiânia a loja Enquanto Isso em Goiás, que vende souvenirs, camisetas, bebidas e até comida tipicamente goiana. “A maioria dos clientes são goianos que moram fora e querem levar alguma lembrança. Já os que moram aqui e vão passear para visitar familiares e amigos levam algo da loja para o exterior como uma memória afetiva”, contou.

Ele ainda informa que lá fora existe pamonha artificial e congelada. “Não é a mesma coisa que temos aqui em Goiás. Então, a goianada aproveita para levar boné, camiseta, chaveiro, doce, pequi para tentar matar a saudade da terra ou pedem para os amigos enviarem por transportadora ou correio,” destacou. A ideia da loja foi justamente para reunir produtores por conta dos produtos que são 100% goianos vindos de Guapó, Nerópolis, Jataí, Posse, Goiânia, Cidade de Goiás, Pirenópolis, Inhumas. “É uma forma de resgatar essa goianidade que nós temos e expandir para fora. Como sempre digo, de Goiás para o mundo”, frisou.

Ele também recebe pedidos de forma on-line pelo site www.enquantoissoemgoias.com de consumidores de todo o país.

O gerente de multiplataforma Júlio André Avelino Alencar Ramos já comprou produtos de Goiás para presentear amigos que moram no exterior. “Já fui para fora do País e levei canecas com frases goianas personalizadas porque, para destacar a nossa cultura, devemos ter valores, preservar amizade, evidenciar a receptividade, além da gastronomia”, disse Ramos, para completar: “até eu que moro aqui às vezes sinto saudades de brincar na rua, daquele clima de interior, mesmo na cidade”.