Embaixada dos Estados Unidos promove evento
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Embaixada dos Estados Unidos promove evento

Professora de ética, mídia e direito da Universidade de Minnesota, Kirtley faz palestra no dia 7, no auditório do Correio. Evento é uma parceria com a Embaixada dos Estados Unidos

Fonte: Correio Braziliense

Sociedades de todo o mundo convivem atualmente com o desafio das notícias falsas. Uma das preocupações de Jane E. Kirtley, professora de ética, mídia e direito na Escola Hubbard de jornalismo e comunicação de massa da Universidade de Minnesota,  é que governos tomem iniciativas, como multas e legislações, para coibir as fake news, mas aproveitem essa necessidade, de proteger a qualidade da informação, como desculpa para sufocar o jornalismo, quando a imprensa “discordar da versão oficial”. Na terça-feira (7/5), a partir das 9h, Kirtley fará uma palestra com o tema Liberdade de Imprensa no auditório do Correio. O evento , gratuito, é uma parceria com a embaixada dos Estados Unidos (veja abaixo como se inscrever).


Kirtley dirigiu o Comitê de Jornalistas para a Liberdade de Imprensa por 14 anos. Antes, foi advogada em Nova York, Virgínia e Washington, D.C. e repórter de jornais em Indiana e Tennessee. Foi jurada do Prêmio Pulitzer e é membro da diretoria da Sigma Delta Chi Foundation. Ela graduou-se pela faculdade de direito da Universidade de Vanderbilt e é bacharel e mestre em jornalismo pela escola Medill de Jornalismo

Como um jornalista deveria encarar o ambiente de desinformação simulado por políticos que usam o termo “fake news”?
Para muitos políticos, “fake news” parece ser qualquer coisa que eles discordem, não gostem, ou que estrague sua versão dos acontecimentos. Considero “fake news” falsas informações que uma organização distribui ao público com o objetivo específico de enganá-lo. Uma das minhas maiores preocupações, porque está acontecendo em muitos lugares ao redor do mundo, incluindo, mas não limitado à Europa, é que os governos estão reprimindo “fake news” (por meio de avisos, multas e legislação). Embora seja uma preocupação legítima dos governos, e eles devem, na minha opinião, fazer o que puderem para contrabalançar propaganda e desinformação, será muito perigoso se isso se tornar uma justificativa para sufocar o jornalismo, que simplesmente discorda ou contesta a versão oficial governo.

A imprensa é atacada por políticos como se fosse a produtora de fake news — e não o contrário. Como os jornalistas podem defender-se nesse campo de batalha?
O melhor que os jornalistas podem fazer é ganhar, e melhorar, sua credibilidade por meio de uma ampla checagem de fatos, sendo transparentes sobre seus métodos de apuração de notícias, usando menos fontes confidenciais, na medida do possível, verificando as informações recebidas pelas fontes que podem revelar e compartilhando informações básicas, como documentos, para que o público possa analisá-las por si mesmo,  e corrigindo seus próprios erros. Os erros não são “fake news”, mas a falha em corrigir erros pode ser. A ideia é combater a retórica e a desinformação com os fatos, identificar a desinformação e permanecer comprometido em buscar a verdade.

A imprensa (on-line e impressa) está perdendo importância nos últimos anos por causa da crise financeira. Você enxerga alguma saída?
Acabei de ler uma entrevista com o investidor e multibilionário Warren Buffett em que ele diz que o declínio da publicidade transformou gradualmente a indústria jornalística de monopólio para franquia com concorrência. E agora a maioria dos jornais é brinde. Ele diz que os leitores procuravam os jornais quando estavam cheios de anúncios sobre ofertas, empregos e apartamentos. Os anúncios eram o conteúdo editorial mais importante, do ponto de vista do leitor. Mas o Craigslist, e outros sites de ofertas, assumiram esse papel.

Os meios de comunicação têm que encontrar um modelo econômico diferente do baseado na receita publicitária. Infelizmente, muitas pessoas, consumidores de notícias, parecem pensar que as notícias devem ser gratuitas, sem perceber o quão caro é produzir um jornalismo bom e confiável. E, claro, alguns deles acham que podem obter notícias de fontes não tradicionais e desconfiam da mídia tradicional do establishment. É verdade que algumas mídias não tradicionais são muito boas, mas muitos simplesmente roubam conteúdo de outras fontes de mídia e divulgam o trabalho como se fossem seus, ou deixam de seguir princípios reconhecidos de bom jornalismo.

O aumento da alfabetização midiática e do pensamento crítico por parte dos leitores e telespectadores ajudaria, assim como encorajaria, o público a buscar fontes de informação que fazem mais do que simplesmente confirmar suas visões atuais. Mas a resposta pode estar em outras direções, como financiamento de fundações independentes para mídia sem fins lucrativos, por exemplo, para substituir a receita de anúncios. O empreendedorismo também é uma opção. Nos EUA, estamos vendo algum sucesso com isso em comunidades menores ou áreas rurais que não podem manter a mídia tradicional, mas que têm fome de notícias e informações. Uma plataforma somente com internet tem custo de infraestrutura menor, e isso pode ajudar a viabilizar essa opção e também a servir às comunidades carentes.

Esta é uma realidade em todo o mundo. Nenhum governo, independentemente do que os políticos digam, realmente acredita em total transparência. Eles querem apresentar sua melhor face ao público e preservar a imagem que cultivaram. Com a internet, está mais fácil do que nunca para os governos falarem diretamente com o público, sem o filtro de uma imprensa independente e crítica. Os jornalistas devem convencer o público de que abertura e transparência ajudam a tornar o governo responsável e a controlar a corrupção. Este não é apenas um problema de imprensa. É um valor importante para o público também. Leis de liberdade de informação e reuniões abertas são necessárias para permitir que todos fiquem de olho no que o governo está fazendo. O público em geral, assim como a imprensa, precisa convencer seus representantes legislativos de que as leis que obrigam o governo a ser aberto são boas para a democracia. Também é necessário ter um Judiciário independente, que defenda as leis governamentais abertas, mesmo se a atual administração ou Congresso não concordarem.

Você está otimista sobre ter um trabalho mais efetivo e extensivo da imprensa?
Sim, eu estou. Apesar das críticas à imprensa pelo atual governo dos EUA, por exemplo, muitos jornais viram assinaturas pagas aumentando. O público está com fome de notícias e informações confiáveis. É uma necessidade que somente uma imprensa independente e apartidária pode cumprir. No futuro, pode assumir diferentes formas e utilizar diferentes plataformas, mas, em última análise, as pessoas precisam de novidades.

Quais desafios as mídias sociais impõem aos jornais?

As mídias sociais têm uma vantagem porque seus custos de infraestrutura são muito menores. Hoje, qualquer um pode chamar-se jornalista. Mas isso não significa que eles se inserem nos padrões do jornalismo responsável e transparente. As mídias sociais, não controladas por leis e muitas vezes dirigidas por pessoas que não são jornalistas tradicionais e que, portanto, não têm como principal missão servir ao interesse público, podem ser altamente partidárias, espalhando rumores e propaganda ampla e rapidamente. E na sociedade polarizada, é muito difícil concordar com os fatos e saber quais conclusões tirar deles. Eu não defendo a regulamentação das mídias sociais, mas não há dúvida de que, porque elas entregam o que muitas vezes parecem notícias, mas não são, e podem fazê-lo quase instantaneamente para pessoas que podem não discriminar suas escolhas, é muito perigoso. Muitas vezes, os jornais chegam a tempo e, em outras, é tarde demais. É motivo de preocupação quando organizações de mídia críveis são rejeitadas, e as plataformas de mídia social, que têm tudo a ver com monetização de conteúdo e, muitas vezes, o avanço de uma agenda que pode ser muito tóxica, são adotadas.

Como as universidades e as pesquisas acadêmicas podem ajudar a entender o que é necessário para um jornalismo mais forte e para estimular seu surgimento?
Os estudiosos vêm ponderando essas questões há anos. Aqueles que estão envolvidos em economia e gestão de negócios podem ajudar, porque, sem bases financeiras sólidas, nenhuma mídia pode ter sucesso. Outros pesquisadores acadêmicos podem olhar para os padrões de consumo do leitor, que tipo de apresentação é mais atraente e para qual demografia etc. Esse não é o tipo de pesquisa que eu, pessoalmente, faço. O que eu estou prestes a dar aos meus alunos é uma base sólida na lei de mídia, para que eles saibam o que podem fazer; e ética, para que possam descobrir o que é a coisa certa a fazer. Não tenho certeza de quanto podemos fazer para incutir coragem e altruísmo, que são virtudes essenciais para um jornalista. Nós podemos apenas tentar liderar pelo exemplo.

Que pesquisas nos campos teórico e prático você pode destacar que seriam úteis para análises?
Eu não sou uma teórica. Sou uma jornalista, que virou advogada, que virou professora e não leio muitos periódicos acadêmicos fora da minha esfera. Mas eu indicaria aos jornalistas a leitura da Columbia Journalism Review, que publica muito material útil e escrito em termos que um leigo possa entender (https://www.cjr.org/). Eles também podem dar uma olhada no Boletim de Silha, que é escrito pelos meus assistentes de pesquisa de pós-graduação. (http://silha.umn.edu/news/). Outra opção pode ser a revista Communication Law & Policy, em cujo conselho editorial eu sirvo (https://www.tandfonline.com/loi/hclw20). O Instituto Poynter na Flórida também oferece muitos recursos sobre esses e outros tópicos. (https://www.poynter.org/).

Palestra: Liberdade de Imprensa na Era Digital

Data: 7 de maio de 2019, das 9h às 11h
Local: Auditório do Correio Braziliense – SIG Quadra 02, 340
Evento em inglês com tradução
Entrada franca (sujeita à disponibilidade de assentos)
Confirmar presença pelo e-mail: embaixadaeua@state.gov
Mais informações: (61) 3312-7364