Mulheres superam desafios e se destacam nos portos brasileiros
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Mulheres superam desafios e se destacam nos portos brasileiros

É crescente o número de mulheres que se interessam pelas carreiras portuárias, quando se analisa o perfil de quem trabalha para o setor atualmente, em relação ao de anos atrás. As mulheres são eficientes e determinadas no ambiente portuário, comprometidas com os objetivos de desenvolvimento do setor. E também se mostram obstinadas em vencer resistências, até mesmo culturais, de modo a abrir cada vez mais espaços em um mercado tradicionalmente ocupado por homens. As companhias portuárias têm reconhecido a importância proporcionado por um ambiente de trabalho mais igualitário e inclusivo, inclusive com impactos positivos nos resultados, tanto que as políticas de igualdade de gêneros têm avançado no setor portuário.

No Dia Internacional da Mulher a ABTP – Associação Brasileira dos Terminais Portuários ressalta o papel das profissionais e executivas para o desenvolvimento da atividade portuária brasileira. Contamos três histórias que servem de inspiração para que cada vez mais mulheres levem em consideração as carreiras portuárias como objetivo de vida profissional.

Lucinéia Bozi da Silva Amorim

Aos 18 anos, Lucinéia Bozi da Silva Amorim foi chamada para um estágio em uma empresa da qual nunca havia ouvido falar, a Cotriguaçu Cooperativa Central. Mas, infelizmente, soube que as vagas para o setor administrativo já tinham sido preenchidas. No entanto, havia uma para balanceiro, profissional que cuida da pesagem de caminhões e vagões nos portos. Mas foi avisada que a vaga era para ser preenchida por um homem, já que o trabalho não era indicado para uma mulher, explicaram a ela.

Mas, disposta a conseguir seu primeiro estágio, tanto insistiu que foi aceita para a vaga. Se tornou, assim, a primeira mulher a trabalhar como balanceira no terminal próprio da Cotriguaçu, situado no porto de Paranaguá (PR).

A determinação de Lucinéia é emblemática. Depois que a companhia constatou que foi um grande acerto contratar uma mulher para as funções na balança, apenas mulheres passaram a ser contratadas para este serviço, diz ela.

O 1º estágio virou 1º emprego, que dura até hoje. Seu talento falou mais alto, foi contratada em definitivo e subiu na carreira, passando pelas áreas administrativa e também a de exportações, onde foi escolhida para substituir o antigo superior. Está na Cotriguaçu há 23 anos, completados no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. A menina, desbravadora na balança daquele terminal portuário, agora é Encarregada de Logística da companhia, que opera em Paranaguá desde 1975.

Lucinéia lembra que quando participou da primeira reunião no porto, eram apenas ela e mais uma mulher em meio a muitos homens. Ano após ano, mais mulheres foram contratadas e hoje há mais líderes femininas do que masculinas, conta. Ela garante que nunca enfrentou qualquer dificuldade ou tratamento diferenciado em função de gênero. Desde o início foi muito respeitada pelas equipes de trabalho e dirigentes.

Ser mulher portuária, para Lucinéia, é “gostar muito deste mundo portuário. É uma loucura, bem estressante. Mas é também apaixonante, desafiador. Você se entrega totalmente e é um caminho sem volta, muito promissor. Tenho muito orgulho desta profissão e deste setor”.

Bárbara Laudano

Do exercício da advocacia, profissão que a fazia lidar diariamente com o Direito Público, Bárbara Laudano não imaginava que um dia estaria à frente da gestão de operações de um porto e completamente apaixonada pela profissão e pelas funções que exerce.

Há 2 anos como Gerente de Portuárias da Intermarítima Portos e Logística, no Porto de Aratu-Candeias (BA), anos antes, em 2016, a advogada foi chamada pela autoridade portuária, a Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba), para assumir a gerência do porto em Ilhéus. Sua experiência, conhecimentos sobre o setor público, posicionamentos na área jurídica, leis e normas, a qualificaram para a função. É a 1ª mulher a ser gestora da Codeba.

Bárbara conta que no início teve que se impor em algumas situações, em razão dessa situação de gênero, mas entende que foi uma fase de aceitação por parte das equipes. Ela diz que não teve dificuldades em avançar em sua nova carreira por ser mulher. Filha única em meio a quatro homens, ela diz saber lidar com o público masculino muito bem. Um porto, para ela, é “um ambiente natural para mim. Desde os primeiros dias”, diz.

Na gestão portuária ela diz que busca “sempre ter um olhar criativo e inovador, estimular a comunicação entre pessoas, engajar todos aos objetivos comuns da companhia, dar feedbacks para as equipes, demonstrar muita energia para a engrenagem funcionar melhor e quebrar qualquer cultura que possa criar dificuldades nos fluxos de trabalho”, diz.

Ser mulher portuária, para Bárbara, é motivo de “muito orgulho pelo que a gente entrega, de como somos úteis para desenvolver a logística que une o mundo. É uma imensa satisfação poder contribuir para a economia do estado da Bahia, do país e do mundo a partir da atividade portuária. Nessa operação a gente se comunica com o mundo. É uma posição de muita importância”.

Sua paixão pelo setor portuário inspira sua filha de 14 anos a se interessar pela profissão de prática de navios.  Ela também tem um filho de 8 anos, mas ele, diz a mãe orgulhosa, ainda não se decidiu pela profissão…embora adore tudo o que se relaciona a navios.

Raquel Ferreira Lopes Rodrigues

A mineira da cidade de Timóteo Raquel Ferreira Lopes Rodrigues é a Gerente de Logística do Porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), da Alunorte. Desde criança já se imaginava trabalhando naquela companhia, inspirada por seu pai.

Entre os destaques ao longo de sua carreira está o período de 2 anos trabalhando embarcada para a Transpetro e sua participação ativa na montagem do departamento de logística do porto da Alunorte. Depois teve uma passagem pela Alumar, em São Luiz (MA), e em 2016 retornou ao Porto de Vila do Conde, já como Gerente de Logística.

Em sua trajetória profissional se deparou com um ambiente por demais masculinizado, desde a fase de formação educacional. Mas conta que superar essas adversidades é um desafio para qualquer mulher e que não devem se deixar abater. Ela busca inspirar outras mulheres a seguir nas carreiras portuárias relatando sua trajetória e as estimula a acreditar que é possível vencer as dificuldades de gênero, se empregar no setor portuário, exercer a profissão, se desenvolver nas várias carreiras disponíveis.

À parte da profissão, Raquel diz que sempre encontra tempo para conciliar a vida profissional com a vida em família, constituída pelo marido e duas crianças. Nunca encarou esta conciliação como algo complexo ou inibidora de sua carreira profissional, faz questão de afirmar.

Assim Raquel define o que é ser uma mulher portuária:

– “É, no meu caso, a realização de um sonho de infância. Sempre acreditei ser possível às mulheres vencerem nas carreiras nesse setor, marcado por ser historicamente masculinizado. Para ser uma mulher atuante na área portuária é preciso ter energia, disponibilidade e vontade de aprender continuamente. É desempenhar suas funções com responsabilidade, consciente de que além de trabalhar pelo desenvolvimento da indústria portuária, todos nós desse setor estamos agindo para o progresso do país como um todo”.