Notícias Rio de janeiro

O advogado de todos

Por Mauro Magalhães  –  Ex-deputado e empresário.
No dia 30 de novembro de 1991, há 32 anos,  morreu, de falência múltipla dos órgãos,  aos 98 anos , o grande jurista,  Sobral Pinto . Que eu conheci,  no governo de Carlos Lacerda, e que reencontrei várias vezes,  quando saí da UDN e fui para o MDB, depois que os antigos partidos foram extintos, no governo do Marechal Castelo Branco,  e surgiu o bipartidarismo ( MDB e Arena).
Nascido em 5 de novembro de 1893, o famoso doutor Heráclito Fontoura Sobral Pinto recebeu o apelido de “Senhor Justiça”, por ser o advogado de todos.
Católico praticante,  ele comungava, diariamente.
Anticomunista, defendeu Luís Carlos Prestes,  no Estado Novo de Getúlio Vargas, perante o Tribunal de Segurança Nacional, em 1937.
Também, nesse período,  foi advogado do militante comunista internacional,
Harry Berger,  preso e torturado pela polícia de Filinto Muller.
No segundo governo de Getúlio Vargas,  em 1952, Sobral Pinto defendeu Carlos Lacerda ( e conseguiu a sua absolvição), em processo que teve como seu acusador o Marechal Mascarenhas de Morais,  comandante das forças brasileiras, na Segunda Guerra Mundial e que chefiou o Estado-Maior das Forças Armadas , entre janeiro de 1953 e setembro de 1954.
O inesquecível “Doutor Sobral ” também foi advogado de Carlos Lacerda,  em alguns processos,  na época em que o jornalista foi governador do antigo Estado da Guanabara.
Durante o regime militar de 1964, Sobral Pinto defendeu o ex-governador Miguel Arraes, entre outros opositores aos governos que vieram após a deposição de João Goulart  .
Quando meu saudoso amigo,  Juscelino Kubitschek,  foi eleito presidente da República,  em 1955, e sua posse estava prestes a não acontecer,  Sobral Pinto fundou a Liga de Defesa da Legalidade e ficou ao lado dos que defendiam a posse de JK.
Em retribuição,  Juscelino Kubitschek,  quando tornou-se presidente,  convidou Sobral Pinto para ocupar uma cadeira no STF.  Mas, o genial advogado recusou.
Torcedor fanático do América,  no Rio de Janeiro,  ele morava em Laranjeiras,  com a sua esposa,  dona Maria José.
O jurista escreveu e trocou muitas cartas,  em vida,  com alguns de seus clientes,  amigos e ilustres colegas de profissão.
Antes de ser cassado,  pelo AI-5, por causa de sua participação na Frente Ampla, ao lado de Juscelino Kubitschek e de João Goulart,  Carlos Lacerda enviou muitas cartas a Sobral Pinto, contra os atos institucionais.
Apoiador do movimento de 1964, Carlos Lacerda se arrependeu, logo nos primeiros dias de abril,  quando foi editado o Ato Institucional número Um. E, em seguida,  quando Castelo Branco suspendeu a realização das eleições de 1965 .
Natural de Barbacena,  em Minas Gerais,  por suas posições anticomunistas, Sobral Pinto também chegou a concordar com a deposição de João Goulart,  mas,  tal como aconteceu com Carlos Lacerda,  mudou de ideia,  quando Castelo Branco começou a anunciar as primeiras cassações e medidas institucionais.
Defensor apaixonado da Constituição e das garantias constitucionais,  Sobral Pinto também foi atingido, na época da decretação do Ato Institucional número 5.
Aos 75 anos, em dezembro de 1968, ele chegou a ser preso. Mas,  depois,  foi solto e continuou em sua caminhada,  pela redemocratização do país.
Personagem histórico do país, Sobral Pinto teve sua vida contada em documentário, dirigido por sua neta, Paula Fiuza.
Há um ano e meio atrás, eu conheci outro neto do grande jurista,  o advogado Carlos Sobral Pinto.
Alguns livros foram escritos sobre Sobral Pinto. Entre eles, ” Sobral Pinto. a consciência do Brasil”, de John WF Dulles,  que,  como eu, é um dos biógrafos de Carlos Lacerda.
Sair da versão mobile