O governo Jânio e a renúncia
Notícias Rio de janeiro

O governo Jânio e a renúncia

Por Mauro Magalhães – Ex-deputado e empresário.
Toda a vez que chega agosto, há mais de seis décadas, surgem, em minha memória, dois acontecimentos marcantes, na história brasileira, o suicídio de Getúlio Vargas e a Renúncia de Jânio.
Desta vez, vou lembrar de alguns fatos que marcaram o governo Jânio Quadros. E, de outros, ainda não mencionados, sobre a renúncia do ex-presidente, ocorrida em 25 de agosto de 1961.
Foi um governo que durou apenas sete meses.
Foi o presidente da República que ficou menos tempo no poder.
Derrotada nas eleições de 1955, que levaram meu querido amigo, Juscelino Kubitschek, ao poder, e , nos pleitos anteriores, que consagraram, nas urnas, Getúlio Vargas, em 1950, e o general Eurico Gaspar Dutra, em 1945, a UDN de Carlos Lacerda, do Brigadeiro Eduardo Gomes e de muitos outros ( eu me elegi, duas vezes, deputado pela extinta UDN, nos anos 60), finalmente, conseguiu, chegar ao poder, em 1960, dando apoio a Jânio Quadros.
O clima político, no país, nas eleições de 1960, estava tranquilo. Ameno. Sem tensões, sem brigas exageradas. Juscelino tinha deixado um Brasil pacificado.
O presidente eleito em 1960 seria o primeiro a tomar posse em Brasília, nova capital federal.
Jânio Quadros, nascido em Mato Grosso do Sul, Campo Grande, fez sua carreira política em São Paulo.
Ele foi vereador, deputado, prefeito de São Paulo, era filiado ao Partido Trabalhista Nacional ( PTN) e , por esse partido, foi lançado candidato à presidência da República.
A bandeira política de Jânio Quadros, candidato à presidência pelo PTN, era a moralidade pública, o combate à corrupção.
Jânio se aproveitou que os inimigos de Juscelino Kubitschek usaram críticas contra a construção de Brasília para criticar o presidente que criou a nova capital.
O símbolo da campanha de Jânio Quadros era a vassoura.
Sem candidato capaz de vencer o Marechal Henrique Teixeira Lott, apoiado pelo PSD de Juscelino Kubitschek e pelo PTB de getulistas e de João Goulart, a UDN decidiu apoiar Jânio, candidato do PTN.
Carismático e querido, João Goulart foi eleito, pela segunda vez ( na primeira vez, foi na eleição de JK), vice-presidente da República, representando o PTB getulista e o PSD de Getúlio e Juscelino.
A posse foi tranquila. Em janeiro de 1961, em Brasília.
Chamou logo atenção, no governo Jânio, o modo como ele conduziu as relações internacionais. Ele, um político que se declarava contra a esquerda, condecorou Ernesto Che Guevara, líder da Revolução cubana e um dos principais inimigos dos EUA.
Midiático, Jânio decretou a proibição das brigas de galo e do uso de biquínis em concursos de beleza.
Ele também decretou a censura a cenas que considerasse como ” imorais “, pelos meios de comunicação, da época, e tornou-se rigoroso contra faltas de funcionários públicos, nas repartições.
Nos meios udenistas, a renúncia de Jânio Quadros foi recebida com surpresa .
Muitos acharam que o pedido de renúncia foi uma tentativa de golpe, por parte de Jânio Quadros, mas que não deu certo.
Com certeza, Jânio achava que a população que o elegeu iria para as ruas. Para pedir que ele não renunciasse. Mas, isso não aconteceu.
João Goulart, o vice-presidente, estava fora do Brasil em 25 de agosto de 1961. Ele estava na China, em missão oficial.
Auro de Moura Andrade, que era o presidente do Congresso, naquele tempo, aceitou o pedido de renúncia, imediatamente.
E, anunciou que a presidência seria ocupada por Ranieri Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados.
A carta de renúncia de Jânio Quadros foi lida, no Congresso, por Auro de Moura Andrade, em menos de cinco minutos.
Depois que saiu da presidência da República, em 1964, quando os militares assumiram, Jânio Quadros foi um dos três ex-presidentes a ter seus direitos políticos cassados.
Os outros dois foram Juscelino Kubitschek e João Goulart.
Ele recuperou seus direitos políticos em 1974. Mas, só voltou a ocupar cargos públicos em 1985, quando foi eleito prefeito de São Paulo, pelo PTB de Ivete Vargas ( sigla que Brizola e os trabalhistas perderam , quando voltaram do exílio, em 1979, e, por isso, fundaram o PDT), com o apoio de Olavo Setúbal, Delfim Neto e Paulo Maluf.