O que tem pra hoje é saudade
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O que tem pra hoje é saudade

Conhecida por ser uma cidade que sempre ofereceu muitas oportunidades de trabalho, Goiânia reúne boas histórias de quem deixou para trás família e amigos para tentar uma vida melhor, mas mantém um sentimento de carinho e amor pela terra de origem

No Brasil, o dia 30 de janeiro é dedicado à celebração da saudade, sentimento que como já dizia a famosa canção “Um dia Só”, da dupla João Mineiro e Marciano (este inclusive falecido recente no último dia 18), “é uma dor tão caprichosa / Chega a ser deliciosa / No momento em que dói mais”. Mas o que a nossa poesia sertaneja traduz facilmente, para outros idiomas é difícil, tanto que a palavra saudade é considerada uma das mais complexas da língua portuguesa, que deu ao vocábulo um significado mais amplo e difícil de entender. Mas o primeiro sentido para uso do termo, não só no português, mas em outras línguas, nasceu do sentimento que temos quando estamos longe de nossa terra de origem.

Por isso, quem um dia precisou sair de sua terra natal, deixando para trás família, amigos, casa e lembranças, para buscar uma vida melhor, sabe bem o seu significado da saudade. É o caso do operário da construção civil Aldir Barbosa dos Santos, 55 anos, e que há 30 deixou a cidade de Taguatinga, no Tocantins, para tentar a vida em Goiânia. “A saudade da terra natal nunca acaba”, diz suspirando ao relembrar de quando brincava nos rios da pequena cidade tocantinense com os amigos de infância. “Era uma época boa, mas precisava trabalhar para ajudar a família, então com 15 anos vim tentar a vida em Goiânia onde já tinha algumas tias que já moravam aqui”, relata Aldir, que trabalha na Dinâmica Engenharia como carpinteiro desde 1999, ofício que aprendeu logo que pisou na capital.

Casado e com dois filhos, nascidos em Goiânia, Aldir conta que para matar a saudade dos velhos tempos, pelo menos duas vezes ao ano, retorna à “terrinha” para visitar os irmãos que ainda estão por lá.  “Meus pais não estão mais entre nós e me deixaram um pedacinho de chão lá, estou organizando para me aposentar e passar a velhice onde passei a infância”, revela.

Oportunidade

A busca por melhores oportunidades foi também o motivo que trouxe José Misael Silva Lima, 37, para Goiânia. Há 16 anos ele deixou a cidade de Jeremoabo, no sertão baiano, atrás de emprego e de uma forma para ajudar os avós que o criaram na roça, cultivando milho e feijão.

Na capital ele se empregou na construção civil logo no primeiro mês. Hoje é armador experiente e trabalha na obra o Kingdom Park Residence, a mais alta torre residencial do Centro-Oeste.  “A vida no sertão é dura, lá se trabalha apenas para comer”, conta. Mas a melhora na qualidade de vida que alcançou em Goiânia, não fez com que José Misael esquecesse de sua terra natal.

José diz que mesmo tendo uma vivência difícil em Jeremoaba, não deixa de sentir saudades de suas origens, e lamenta o fato de estar há mais de quatro anos sem visitar sua terra natal. “São mais de 2 mil quilômetros, é uma viagem longa e cara, e ultimamente não tem sido possível fazê-la”, diz.

Ele explica que quando chegou aqui o dinheiro “valia mais”, hoje as as coisas estão mais difíceis, mas ainda assim diz que a vida em Goiás é melhor. “Não é possível voltar para ficar, vou lá só para visitar meus velhinhos. Tem hora que o coração aperta de saudade”. Para matar um pouco deste sentimento, ele se apega aos vídeos dos avós feitos por parentes e enviado via celular. “Eles já estão com 87 anos e no final deste ano eu quero ir lá e quem sabe levar os bisnetos que eles ainda não conhecem”, planeja.

Migração

As histórias de Aldir e José Misael engrossam as estatísticas que fazem de Goiás, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o segundo estado que mais atrai migrantes, ficando atrás apenas de São Paulo.

A estimativa do IBGE é de que até 2030 esta unidade da federação receba por ano mais de 31 mil pessoas, vindas de outras partes do País, sendo que só em 2018 foram cerca de 40 mil. Nesse sentido, Goiânia, a maior capital do Centro-Oeste, sempre foi um local atrativo para muita gente que decidiu sair de sua cidade natal em busca de trabalho e melhores condições de vida.