Pesquisadores da Embrapa demandam exoneração de Evaristo de Miranda
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Pesquisadores da Embrapa demandam exoneração de Evaristo de Miranda

Por Ana Carolina Amaral

Influente no governo Bolsonaro, o agrônomo é apontado por cientistas como impulsionador de ataques às políticas de conservação

O Sinpaf, sindicato que representa os trabalhadores da Embrapa, pediu à direção da empresa “a imediata exoneração de Evaristo de Miranda da assessoria da presidência da Embrapa“, através de nota publicada na sexta-feira (28).

Na última terça-feira (25), o agrônomo foi denunciado por cientistas, em um artigo científico no periódico Biological Conservation, como autor de falsas controvérsias e impulsionador de retrocessos na política ambiental do país.

“O ataque às políticas ambientais foi impulsionado por um esforço sistemático e velado de um pequeno grupo de contrários para desinformar os tomadores de decisão e a sociedade”, diz o artigo, que mapeou as táticas do grupo de Evaristo de Miranda para disseminar informações falsas e ainda identificou o seu impacto sobre o enfraquecimento de políticas públicas das últimas três décadas.

O estudo mostra, por exemplo, como Miranda superestimou em 309% dados sobre a conservação de matas ciliares em um texto de 2008. A publicação foi usada por parlamentares ruralistas, no ano seguinte, como argumento para pedir a alteração do Código Florestal. Em 2012, o Congresso aprovou uma nova versão da lei com anistia a 58% do desmatamento ilegal feito até 2008.

O artigo também aponta a influência de Miranda sobre os discursos presidenciais. Ao discursar na Assembleia Geral da ONU em 2019, o presidente Jair Bolsonaro usou dados do autor. Naquele período, orientações do Itamaraty enviadas a diplomatas no exterior também seguiram os dados de Miranda.

A pesquisa ainda analisou o currículo do agrônomo na plataforma Lattes. Embora mencione a publicação de 83 textos como artigos científicos completos, apenas 17 deles foram publicados em periódicos científicos. Dentre esses, apenas dez artigos estão indexados em bases de dados reconhecidas por cientistas.

Liderado pelo professor Raoni Rajão, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o estudo foi produzido por um grupo de 12 cientistas da USP (Universidade de São Paulo), do Inpe, da UnB (Universidade de Brasília), da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha).

“Há muitas evidências e provas de que a atuação de Evaristo de Miranda tem sido historicamente tendenciosa, manipulando dados e informações para dar sustentação à elaboração de propostas e projetos de leis com objetivo de afrouxar e dilapidar a legislação ambiental em prol do agronegócio”, afirma a nota do Sinpaf (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário).

Embrapa não se pronunciou sobre o caso. Além da exoneração, o sindicato pediu ao órgão “um posicionamento institucional público e a apuração das denúncias em curso por meio do devido processo legal”.

Procurado, Evaristo de Miranda não retornou aos contatos da reportagem (Folha de S.Paulo, 30/1/22)