Raro, câncer de apêndice costuma ser diagnosticado após suspeita de apendicite
Saúde

Raro, câncer de apêndice costuma ser diagnosticado após suspeita de apendicite

Os sintomas de alerta são dor na região do estômago ou pélvis, inchaço ou líquido no abdômen. Diagnóstico de câncer é feito a partir de biópsia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultrassom e leva em conta a idade, histórico médico e tipo de câncer suspeito. Principal tratamento é a cirurgia oncológica

O anúncio da morte do ator mexicano Adan Canto, aos 42 anos, famoso por atuar em produções como The Following e Designated Survivor, ocorreu por conta da evolução de um câncer de apêndice, doença rara que costuma ser diagnosticada de forma incidental (quando se suspeita inicialmente de outras causas) como apendicite (que é uma inflamação benigna) e outras doenças abdominais.

Um estudo publicado na revista científica Journal of Surgical Oncology mostram que 28,6% dos pacientes com câncer de apêndice receberam um diagnóstico inicial incorreto de apendicite inflamatória. Pacientes com mais de 75 anos de idade tiveram maior probabilidade de serem diagnosticados erroneamente do que aqueles com idades entre 65 e 75.  O câncer de apêndice ocorre no apêndice, que é uma bolsa fina que fica presa ao intestino grosso e fica na parte inferior direita do abdome. A doença surge quando as células do apêndice mudam e crescem significativamente.

Com baixa incidência no mundo, registrando de 0,2 a 0,5 casos para cada 100 mil habitantes, o câncer de apêndice é dividido em diferentes tipos, sendo que o mais comum é o tumor neuroendócrino (comumente chamado de tumor carcinóide). Ele costuma ser indolente (de crescimento lento) e representa cerca de metade dos cânceres de apêndice. “Por seu caráter indolente, é comum a doença evoluir sem ser diagnosticada. Porém, é importante que, na persistência de sintomas abdominais, se investigue a possibilidade de câncer, não apenas de apendicite, para que a doença seja descoberta antes que evolua para uma forma mais avançada”, destaca o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília.

Outros tipos de tumores de apêndice são as neoplasias epiteliais, como o adenocarcinoma de apêndice, que são tumores que começam nas células que revestem o interior do apêndice e podem ser tratados de forma semelhante ao câncer colorretal.

Os sintomas de câncer de apêndice variam de paciente para paciente e alguns não apresentam nenhum sintoma prévio. No entanto, sintomas que podem ocorrer são dor na região do estômago ou da pelve, inchaço e ascite (líquido no abdômen). Havendo a suspeita de câncer, o diagnóstico é feito a partir de biópsia, tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultrassom abdominal. “A doença costuma evoluir de forma silenciosa e, quando surgem esses sintomas, eles são inespecíficos. Por conta disso, é fundamental que sejam considerados também outros fatores como a idade do paciente, histórico médico e tipo de câncer suspeito. A doença é mais comum em homens, principalmente após os 60 anos, mas também pode ocorrer em pessoas mais jovens, como foi o caso do ator Adan Canto”, explica Pinheiro.

Fatores de risco

Os fumantes têm maior probabilidade de desenvolver câncer de apêndice do que os não fumantes. Outro fator de risco é o histórico familiar, sendo que pacientes com histórico familiar de câncer de apêndice ou de algumas síndromes genéticas correm maior risco de desenvolver a doença. Deve haver maior atenção por parte de quem tem histórico de certas condições médicas, como gastrite atrófica ou anemia perniciosa, que afetam a capacidade do estômago de produzir ácido.

Cirurgia é o principal tratamento para câncer de apêndice

O planejamento terapêutico, que define as opções de tratamento, é feito de acordo com informações clínicas do paciente, tipo de câncer de apêndice e estadiamento (fase de descoberta da doença). O tratamento mais comum para câncer de apêndice é a cirurgia oncológica. As cirurgias podem ser uma apendicectomia (remoção completa do apêndice), hemicolectomia (remoção de uma parte do cólon próxima ao apêndice); cirurgia de citorredução (nesta, os tumores e o fluido circundante são removidos).

A cirurgia de citorredução (também conhecida como peritonectomia), pode ser recomendada se a doença se espalhar além do apêndice e envolver outras áreas do abdômen. Pode haver a recomendação de remoção do peritônio (membrana que reveste todo abdômen internamente e suas vísceras). Os demais tratamentos indicados podem ser a quimioterapia sistêmica e a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC).

Referência
Siddharthan, R. V., Byrne, R. M., Dewey, E., Martindale, R. G., Gilbert, E. W., & Tsikitis, V. L. (2019). Appendiceal cancer masked as inflammatory appendicitis in the elderly, not an uncommon presentation (Surveillance Epidemiology and End Results (SEER)‐Medicare Analysis). Journal of Surgical Oncology.

Sobre a SBCO – Fundada em 31 de maio de 1988, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) é uma entidade sem fins lucrativos, com personalidade jurídica própria, que agrega cirurgiões oncológicos e outros profissionais envolvidos no cuidado multidisciplinar ao paciente com câncer. Sua missão é promover educação médica continuada, com intercâmbio de conhecimentos, que promovam a prevenção, detecção precoce e o melhor tratamento possível aos pacientes, fortalecendo e representando a cirurgia oncológica brasileira. É presidida atualmente pelo cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro (2023-2025).

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