Museu Vivo monta o consultório de Dr. Edson
Artes

Museu Vivo monta o consultório de Dr. Edson

Gestado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) abre, nesta sexta-feira (27.8) a mostra “Consultório do Dr. Edson Porto”, reproduzindo o local de trabalho do médico pioneiro de Brasília, que morreu, aos 86 anos, em 2018. A exposição fica aberta à visitação pública, dentro dos protocolos de segurança sanitária, de sexta-feira a domingo, das 10h às 16h.

A exposição conta com 30 peças ambientadas na réplica do consultório montado no MVMC. São equipamentos que foram trazidos para Brasília a fim de fazer, no canteiro de obras, atendimentos que não podiam ser levados para Goiânia de avião, pelo crescente custo: cadeiras e mesas, autoclave (para esterilização), geladeira, armário de remédios, bandejas, coletores de urina e fezes, pastas de documentos entre outros.

A mostra substitui a exposição permanente “Poeira, Lona e Concreto”, que foi suspensa para manutenção.

“Estamos aproveitando um trabalho de higienização dos itens da exposição permanente ‘Poeira, Lona e Concreto’ (mais de mil itens) para dar visibilidade aos serviços prestados por esse médico pioneiro”, explica o coordenador das diretorias da Subsecretaria do Patrimônio Cultural (Supac), Felipe Ramón.

MEMÓRIAS DE MARILDA

Esposa de Dr. Edson. Marilda Porto, 81 anos, fala com muito orgulho dos tempos heroicos em que morava com o marido numa das casinhas de madeira do atual museu, quando o local era o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO). A edificação, concebida para ser provisória, foi levantada em apenas dois meses, inaugurada em julho de 1957, de modo a atender o crescente número de operários acidentados no canteiro de obras da construção de Brasília e dar assistência a um contingente crescente de crianças e adultos que inchavam a população do que seria a capital federal três anos mais tarde.

“Era muito comum baterem na janela de nossa casa no meio da noite, gritando, Dr. Edson, ajuda pelo amor de Deus”, relata Marilda, que veio de Goiânia num jipe, em estrada de terra, casada com ele, aos 18, um ano depois de começarem namoro de compromisso no Jóquei Clube de Goiás. O mineiro de Araguari (MG) estudou medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro antes de aceitar o desafio de atender nos alojamentos da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), no que é hoje a Candangolândia.

A prática de pediatria, a especialidade do médico Edson Porto, teve de aguardar um pouco e ceder espaço a urgências, como operar, suturar e amputar membros dos homens que erguiam as estruturas planejadas por Oscar Niemeyer. “Ninguém tinha equipamento de proteção, trabalhavam de chapéu de palha e sandálias”, testemunha Marilda.

Com cinco filhos e uma penca de netos, Marilda fala daquela época como “uma experiência magnífica, de grande valor humano, em que as pessoas trabalhavam com alegria e entusiasmo, se ajudando, algo que não vemos muito hoje”. Ela diz que conviveu com todo mundo, faxineiras, operários da manutenção do hospital, enfermeiras, motoristas, e sugere que fotos dessa gente, muitas das quais ela coleciona, deveriam ficar expostas no MVMC.

MAIS DUAS EXPOSIÇÕES

Felipe Ramón anuncia para setembro mais duas exposições no MVMC, com datas a confirmar. “Joaquim Paiva: cor e vida” é, segundo ele, que assina a curadoria, “uma exposição que procura celebrar o aspecto dinâmico e vivo dos primeiros anos da capital federal. Não são fotografias das grandes obras arquitetônicas, nem retratos de personalidades, mas registros da expressão criativa de pessoas comuns, da pujança do cotidiano expressa em suas casas, locais de trabalho, roupas, corpos e rostos”.

Segundo o curador, o fotógrafo nascido em Vitória (ES), advogado e diplomata, dava chance aos pioneiros da cidade para posar, escolher a maneira como queriam ser fotografados.

A outra exposição com o acervo do MVMC fará um recorte sobre o papel das mulheres na construção da capital e levará o nome de “Brasília, feminino de Brasil”. Também curador dessa exibição, Ramón diz que “a exposição das mulheres pretende ajudar a corrigir uma injustiça histórica: muitas vezes apenas os pioneiros são lembrados, esquecendo o papel importantíssimo das mulheres na criação simbólica e cultural dessa capital de todos os brasileiros”, contextualiza.

Para essa exibição, estão sendo preparados áudios acionados por QR Code, convidando a um passeio entre objetos e fotografias da época da construção, num resgate do lugar do feminino na capital de concreto armado.

MOSTRA “CONSULTÓRIO DO DR. EDSON PORTO”

Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC)

Núcleo Bandeirante – Setor JK Lote D

Visitação de sexta-feira a domingo, das 10h às 16h

Telefone: (61) 3301-6641